Raros são os políticos dispostos a abdicar do poder diante da impossibilidade de levar adiante suas ideias. Foi o que fez Alberto Ruiz-Gallardón, ministro da Justiça da Espanha até duas semanas atrás, após o presidente Mariano Rajoy retirar do parlamento o projeto de reforma na legislação do aborto para dificultar a sua realização. A proposta era um compromisso eleitoral do Partido Popular (PP), e modificava uma lei de 2010 aprovada na administração de José Luis Zapatero. Eram tantas as resistências na sociedade e entre os próprios parlamentares que Rajoy decidiu recuar e optou pela retirada do projeto.

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Gallardón, que havia feito sua razão de ser no governo lutar por essa porposta, considerou então encerrada sua missão, não só no Ministério da Justiça, mas na vida pública. Depois de 30 anos na política, renunciou também ao seu mandato e saiu com elegância, diferentemente de alguns de seus pares que culpam os outros por seus fracassos ou esquecem suas convicções para manterem seu naco de poder. “É minha obrigação. Não estou saindo sob pressão, mas porque não fui capaz de cumprir minha tarefa”, disse, diante das câmeras de tevê. “Não sou dos que procuram desviar responsabilidades. A responsabilidade desse projeto é minha e quem tem de se demitir por não ter conseguido levá-lo adiante sou eu.”

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O ex-ministro pediu desculpas ainda aos seus adversários políticos no caso de eles terem se sentido tratados de forma injusta. Gallardón afirmou que nunca quis fazer ataques pessoais e, sim, manter-se no espaço do debate político. Advogado de formação, ele terá de aguardar um período de quarentena para voltar a exercer sua profissão. Um bom exemplo, porém, já deixou.

Foto: Juan Medina/Reuters