A relativa inveja que os brasileiros sentem ao mirar os outlets internacionais parece estar com os dias contados. A exemplo do que acontece em cidades como Miami e Orlando, pavilhões com estacionamentos amplos, ligeiramente afastados dos grandes centros comerciais e com roupas e bolsas de marcas de sucesso como Calvin Klein, Michael Kors e Kipling a preços baixos estão desembarcando com força no Brasil. No sábado 18, será inaugurado Catarina Fashion Outlet, do grupo JHSF, em São Roque, a 69 quilômetros de São Paulo, que terá marcas como Burberry, Cris Barros e Tory Burch. Será o primeiro que deverá estar integrado a um aeroporto executivo, também erguido pelo grupo, com inauguração prevista para 2016.

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PIONEIRO
Outlet Premium, inaugurado em 2009 em Itupeva (SP):
fila para abertura de novas lojas

A expansão desse modelo ocorre em todo o País. Empresas líderes do setor de shopping centers viram nos outlets uma grande oportunidade de negócios. O Platinum Outlet, inaugurado pelo grupo Iguatemi há um ano em Novo Hamburgo (RS) fatura mensalmente R$ 2 mil por metro quadrado – um ganho total de mais de R$ 20 milhões por mês. Dois novos outlets deverão entrar em funcionamento até 2016 e quatro novos destinos estão sendo avaliados. “Em até cinco anos, pretendemos que os recursos provenientes de outlets representem 10% do total da receita do grupo”, diz Sergio Zukov, diretor de operações sul e de outlets da Iguatemi Empresa de Shopping Centers. O consumidor só tem a comemorar, pois para integrar a maioria desses empreendimentos os lojistas devem se comprometer a oferecer descontos de 30% a 70% sobre o preço dos produtos encontrados nas lojas tradicionais.

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MAIS CONSUMIDORES
O Platinum Outlet, do grupo Iguatemi, funciona há um ano em Novo Hamburgo (RS)

É a segunda vez que os outlets tentam se firmar no País. Na década de 1990, oito projetos surgiram no Brasil, mas não decolaram. Além dos próprios lojistas falharem na implementação do modelo, a alta taxa de juros e a inflação prejudicavam os negócios. Com a atual política econômica de estímulo ao consumo e mais acesso ao crédito, o cenário ficou mais favorável aos lojistas. Um dos primeiros dessa nova leva foi o Outlet Premium, inaugurado em junho de 2009 em Itupeva, a 72 quilômetros da capital paulista, pelo grupo General Shopping, uma das empresas líderes de gestão de Shopping Centers. “Foi difícil atrair os lojistas no início”, conta o diretor de marketing e varejo Alexandre Dias. “Na época tinha-se a ideia de que o outlet não funcionava no Brasil.” O empreendimento fez sucesso e hoje tem fila para abertura de loja e um crescimento de 37,5% do número de visitantes anuais. As roupas masculinas Brooksfield, as mochilas Kipling e as bolsas Coach também serão em breve comercializadas no local. A General Shopping possui três outlets – em São Paulo, na Bahia e em Goiás – e oito empreendimentos devem ser lançados até 2016.

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O atual sucesso dos outlets se deve ao bem-sucedido casamento entre lojistas, empresas de shopping center e consumidores. De um lado, há uma classe econômica em ascensão familiarizada ao modelo internacional de malls, que deseja consumir marcas conceituadas, mas nem sempre pode pagar os altos preços cobrados nas lojas tradicionais. De outro, as empresas construíram os espaços em locais relativamente próximos do consumidor, mas suficientemente longe dos altos custos de um estabelecimento de shopping em grandes metrópoles. E os lojistas aprenderam a lidar com esse tipo de comércio. “O que mais pesa no sucesso é oferecer a grade completa de produtos aos clientes”, afirma Maurício Morgado, professor do Centro de Excelência em Varejo da Fundação Getulio Vargas (FGV). “Para isso, é preciso fabricá-los ou importá-los já pensando no que será vendido nos outlets”, diz ele.

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Nichos específicos também começam a surgir. É o caso do Casa Outlet Shopping, o primeiro a abrigar prestigiadas lojas de design de interiores. Localizado em Taboão da Serra, na Grande São Paulo, o empreendimento deve ser inaugurado em breve. Apesar dos baixos resultados apresentados pelo varejo desde janeiro, o modelo de outlets costuma resistir bem às crises financeiras. “Os centros acabam recebendo mais mercadorias que não são vendidas nas lojas principais, o que é um impulso a curto prazo”, afirma Arnaldo Kochen, responsável pela comercialização e implantação do CasaOutlet e diretor da Kochen Consultoria e Participações. “A longo prazo, porém, os baixos resultados econômicos do Brasil podem ser muito ruins, pois as empresas acabam se adaptando. E produzem menos”, diz ele.

Foto: Pedro Dias/Ag. Istoé, Antares Martins