Um vampiro, conhecido como o senhor das trevas, que mora num castelo, no topo de uma colina na Transilvânia. Essa imagem que livros e filmes cristalizaram há mais de cem anos sobre o Conde Drácula está sendo derrubada por um grupo de arqueólogos turcos. Eles descobriram recentemente, em Tokat, no norte da Turquia, durante o trabalho de restauração das ruínas de um castelo, a masmorra onde acreditam que Drácula foi mantido refém durante a sua juventude, em meados do século XV. O mais famoso dos vampiros não passa de um personagem literário criado pelo escritor irlandês Bram Stoker, em 1897. O autor, porém, se inspirou numa figura histórica real, que nunca foi conde, mas príncipe da Valáquia (uma região da Romênia). Vlad III recebeu a alcunha de Drácula (“o filho do dragão”) por ser herdeiro de um governante local autoproclamado Dracul (“o dragão”), membro de uma ordem de cavalaria chamada Ordem do Dragão. Para mostrar subserviência ao Império Otomano, o pai enviou seu descendente e o irmão mais novo ainda crianças para a Turquia. Agora, pesquisadores do país afirmam que eles ficaram no castelo de Tokat e que a descoberta de duas masmorras e um túnel escondido comprova isso. “As salas foram construídas como prisões. É difícil estimar em qual delas Drácula foi mantido, mas ele esteve por aqui”, afirmou o arqueólogo İbrahim Çetin, que trabalha na escavação.

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FICÇÃO
O ator húngaro Bela Lugosi interpreta o vampiro Conde Drácula
em filme de 1931. Surgido na literatura, o personagem ganhou
notoriedade nas telas de cinema

Está comprovado que Drácula passou cerca de seis anos na Turquia, antes de voltar à Valáquia após a morte do pai e do irmão mais velho. Foi quando se virou contra os otomanos e ganhou o apelido de Vlad Tepes (“o empalador”) pelo hábito de enfiar uma estaca no ânus dos opositores derrotados para inspirar terror. Ele foi considerado um tirano sanguinário pelos inimigos, mas até hoje é visto como herói pelos romenos. Especialistas, no entanto, não têm certeza dos lugares por onde passou quando jovem. Tratando-se de um nome capaz de atrair turistas e dinheiro, novos achados são sempre bem-vindos.

Em junho, um grupo de historiadores disse ter encontrado a tumba onde o príncipe estaria numa igreja da Itália. A maioria dos acadêmicos acredita que Drácula morreu numa emboscada durante uma batalha em 1476 e que seu corpo foi enterrado num local sem ornamentos ou num monastério próximo. Já os historiadores que sustentam a tese da tumba italiana dizem que ele foi capturado vivo e enviado para Nápoles após o pagamento de um resgate. A versão é fascinante, porém fantasiosa, pois as supostas evidências encontradas carecem de consistência histórica.

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REALIDADE
Ruínas do castelo de Tokat, Turquia, onde arqueólogos acreditam ter
encontrado a masmorra onde o príncipe romeno Vlad Tepes Drácula
foi mantido refém na juventude

Diretor da Secretaria de Cultura e Turismo de Tokat, Ali Uçar garante que Vlad passou quatro anos ali, entre 1443 e 1447, e que pretende construir um museu dedicado à sua memória após os trabalhos de restauração. “Nenhum objeto dele foi encontrado, mas documentos históricos indicam que Drácula foi prisioneiro aqui”, afirma. Ileana Cazan, diretora do Instituto de História Nicolae Iorga, na Romênia, contesta a tese. “Tudo sobre o forte de Tokat é pura especulação. Se ele esteve lá não foi como prisioneiro, preso em masmorras ou túneis secretos. Ele tinha certa liberdade e era tratado como um príncipe.” Autor de um livro sobre a história do personagem, o britânico M.J. Trow contemporiza a discussão. Ele diz que o jovem Vlad de fato era tratado como um hóspede de honra do sultão, mas que justamente por isso pode ter permanecido no castelo de Tokat. “Pelo modo como ele foi mantido, ele pode ter se movido entre diferentes lugares. Podia sair para caçar, por exemplo; então é possível que tenha estado em muitos locais.” Até que mais investigações históricas sejam feitas, a resposta para o mistério permanecerá, como o próprio senhor das trevas, encoberta em sombras.

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