A apuração das urnas, no domingo 5, surpreendeu a todos pela quantidade de divergências entre os resultados eleitorais e os índices detectados pelas pesquisas de intenções de voto nos dias antecedentes ao primeiro turno. A maioria dos institutos não conseguiu captar as “ondas” que se formaram na reta final das eleições, tanto na disputa presidencial como em boa parte das corridas estaduais. Os principais institutos atribuíram as falhas nos levantamentos às constantes mudanças de opinião do eleitor, que cada vez mais decide o seu voto às vésperas do pleito ou até mesmo no próprio dia da eleição. “A coisa é dinâmica. Um percentual significativo do eleitorado resolve o voto ou muda de última hora”, alega a diretora do Ibope, Márcia Cavallari. Mesmo que as explicações se mostrem plausíveis, a profusão de discrepâncias, neste primeiro turno, colocou não só o Ibope, como o Datafolha, os dois maiores institutos do País, na berlinda e os transformou em alvos de críticas nas redes sociais. Os levantamentos do Ibope divulgados nos 26 Estados e no Distrito Federal destoaram da apuração em nada menos do que 17 unidades da Federação, ou 66,66%. O instituto só conseguiu estimar corretamente o resultado das eleições para governador em dez Estados.

abre.jpg

De fato, a margem de acerto dos levantamentos fica prejudicada quando há um grande contingente do eleitorado disposto a decidir o voto apenas no último momento. Ocorre que, no caso da pesquisa envolvendo a disputa presidencial, o Ibope teve dificuldade em prever até as tendências de crescimento, como a do candidato do PSDB, Aécio Neves. O instituto Sensus foi o primeiro a identificar uma possível virada de Aécio sobre a candidata do PSB, Marina Silva, quando restava mais de uma semana para o pleito. Enquanto isso, o Ibope o manteve estacionado na casa dos 19% do dia 13 de setembro a 1º de outubro, período em que divulgou quatro levantamentos. Apenas na derradeira pesquisa do instituto, a ascensão do tucano foi identificada. Mesmo assim, Aécio, ao alcançar 33,5% dos votos, teve 4,55 pontos percentuais a mais do que a última simulação do Ibope. O Datafolha já registrava a curva ascendente de Aécio. Não chegou nem perto, no entanto, dos números finais – 7,55 de diferença.

As divergências entre os resultados das pesquisas e aqueles expressos nas urnas não se limitaram às eleições presidenciais. Na Bahia e no Rio Grande do Sul, por exemplo, o placar final destoou completamente do aferido pelos levantamentos. Tarso Genro (PT) aparecia em primeiro nas intenções de voto dos gaúchos, com 36% contra 29% de Ana Amélia Lemos (PP) e os mesmos 29% de José Ivo Sartori (PMDB), segundo o Datafolha. No Ibope, os últimos números anunciados eram parecidos. Ao abrir as urnas no dia 5, Sartori surpreendeu ao aparecer em primeiro com 40% dos votos válidos. O peemedebista seguirá para o segundo turno contra Tarso Genro, que obteve 32,57%. Ana Amélia ficou em terceiro, com 21,79% dos votos válidos. Na Bahia, o resultado foi ainda mais inesperado. A última pesquisa divulgada pelo Ibope mostrou Paulo Souto (DEM) e Rui Costa (PT) empatados com 46% cada um. Em pesquisa anterior, Rui Costa tinha 27% e Souto, 43%. O cenário era de segundo turno. No final, deu Costa no primeiro, com 54,53% dos votos válidos, contra 37,39% de Paulo Souto.

01.jpg
"A coisa é dinâmica. Um percentual significativo do eleitorado
resolve o voto ou muda de última hora"

Dois erros crassos em pesquisas entraram para a história das eleições. Em 1982, na disputa pelo governo do Rio, Leonel Brizola aparecia com apenas 2% das intenções de voto, mas nas urnas ele foi eleito com 34,2% dos votos, contra 30,6% de Moreira Franco. Em 1985, Fernando Henrique aparecia vitorioso em expressiva vantagem contra Jânio Quadros na corrida pela Prefeitura de São Paulo, mas o resultado foi diferente. Jânio venceu com 37,53%, comprovando que a única pesquisa à prova de erros é a da urna.

Foto: EONARDO SOARES/ESTADãO CONTEÚDO/AE