A mãe de todas as crises financeiras é o “crash” de 1929, quando Wall Street também entrou em parafuso, com amargos reflexos na economia americana e pelo mundo afora. Na famosa “quinta-feira negra”, 24 de outubro, foram vendidos 12,9 milhões de ações, com a perda de um terço do patrimônio dos investidores. Richard Whitney, dirigente do Banco Morgan, fez o possível para estancar o efeito manada, ao comprar grandes lotes de ações a preços acima dos de mercado. Mas fracassou e, na terça-feira 29 de outubro, a Bolsa foi ao fundo do poço, com a venda maciça de 16 milhões de ações. O Dow Jones caiu 12%. As perdas somaram US$ 30 bilhões em apenas uma semana – mais do que os EUA gastaram na Primeira Guerra Mundial.

A crise atual se assemelha à de 1929? Para a maioria dos economistas, a comparação é apressada. “As crises nunca são iguais. E as circunstâncias de 1929 eram bem diferentes”, explica à ISTOÉ o economista Carlos Lessa, da UFRJ. Autor do livro 24 de outubro de 1929 – a queda da Bolsa de Nova York, o professor Wagner Pereira, da USP, também ressalta que, na época, os EUA enfrentavam problemas como a superprodução e limites na força de trabalho. A produção crescera em ritmo acelerado no pós-guerra e o país assumira a liderança no capitalismo mundial. Mas, à medida que os europeus se recuperaram, importaram menos e passaram a competir com as mercadorias made in USA. Os salários na América caíram e o consumo idem. Só o mercado de ações não viu. Com o “crash” da Bolsa, milhares de bancos e empresas foram à falência. A solução só veio em 1933 com a adoção do New Deal, uma profunda intervenção do Estado na economia.

Hoje, a economia americana não enfrenta problemas como os de 1929, mas dispõe de um mercado financeiro altamente sofisticado, com raízes no mundo globalizado. Enquanto a Grande Depressão atingiu outros países aos poucos, as conseqüências atualmente são imediatas. “Na verdade, essa crise, pela universalidade e pela interconexão, é até mais complicada”, afirma Lessa. Na opinião do ex-ministro do Planejamento João Paulo dos Reis Veloso, uma das lições mais importantes de 1929 é que “se deve evitar a todo custo a quebra de bancos”. Na Grande Depressão, ao tentar se recuperar, os EUA criaram uma nova legislação tarifária, altamente protecionista. Ao restringirem as importações, ampliaram a crise para os quatro cantos do mundo. É de se esperar que, desta vez, eles assumam suas responsabilidades e cuidem de arrumar a casa o mais rápido possível. “A configuração geoeconômica hoje é diferente da dos anos 30, mas os americanos ainda detêm um terço da economia mundial. Basta de insensatez”, afirma Veloso.

12% foi quanto o Índice Dow Jones caiu em 29 de outubro de 1929, dia do colapso da Bolsa