Há pouco mais de um ano milhares de brasileiros tomaram as ruas para exigir mudanças. Formavam um movimento coeso, crescente, representado nas capitais e no interior, e repleto de bandeiras por melhorias – da educação ao transporte, da saúde à qualidade de vida em geral. No todo, a marca do protesto era a insatisfação com os rumos tomados pelo País nos últimos tempos. Sem distinção de credo, nível social ou idade, as manifestações abarcaram parte significativa da população, que expressou seu inconformismo derretendo principalmente os índices de aprovação ao governo Dilma (que em menos de um mês caíram à metade dos 60% antes registrados), identificado como maior responsável pelo desvio de rota. Passado o hiato de tempo até a presente eleição, o grito transformador terá seu grande teste neste domingo. É na urna que ele será verbalizado com maior clareza. É dali que ele sairá como resposta sobre o tipo de mudança almejada por cada um – e que na soma consolida o anseio da maioria. Ele dirá se o caminho da transformação passa por uma renovação de votos no sistema em vigor, concedendo mais um mandato aos atuais governantes, ou se referenda uma nova leva de alternativas de gestão tanto no nível federal como estadual. Na corrida pela escolha de seus candidatos, os eleitores foram sacudidos por uma verdadeira gangorra de emoções à base de campanhas fartas de promessas e pobres de conteúdo. A máquina trituradora dos marqueteiros de plantão vendeu ilusões, distorceu a realidade e embaçou a cena política. Personagens ambíguos ganharam os holofotes, embalados com ares de novidade. Falhas foram disfarçadas e convicções pessoais revistas ao sabor das conveniências. No vale-tudo, o bizarro, o pitoresco, o mentiroso incorrigível também tiveram vez, como sempre ocorre nessas ocasiões. Quem detinha o poder colocou a máquina para trabalhar a seu favor e controlou o tempo de propaganda no rádio e na televisão. Mas na disputa desigual ainda assim sobrou espaço para o eleitor enxergar opções que o representam e atendem ao clamor geral pelas reformas, que devem ser conduzidas de maneira segura e responsável. Passado o circo das campanhas enganosas, no dia seguinte ao fechamento das urnas, os brasileiros voltarão à dura realidade, com a esperança de que os escolhidos construam uma nação melhor, na qual o fisiologismo político, o loteamento de cargos, o assalto às estatais e a corrupção endêmica não mais sobrevivam como práticas rotineiras de grupelhos cujo único objetivo é tomar o Estado para se locupletar. O Brasil vive hoje uma democracia madura. Nela o ímpeto por melhorias é um direito legítimo e natural, tal e qual o de qualquer sociedade moderna, e os refratários a isso, legatários do atraso, ficarão para trás. 


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