O mineiro Walfrido Mares Guia, atual ministro do Turismo, tem sido presença constante nas viagens internacionais do presidente Lula e não hesita em afirmar: “O carisma do presidente e as caronas no Aerolula têm feito a diferença na hora de promover e vender o Brasil lá fora.” Também têm ajudado, e muito, as pesquisas realizadas pelo Ministério para saber com clareza e da parte dos mais interessados (os turistas) o que temos de bom e de ruim. Numa dessas pesquisas, ficou claro que os de fora nos vêem como um país colorido. As cores vistas pelos turistas são associadas ao que temos de melhor, matas (verde), praias (azul), sincretismo religioso (branco), sol (amarelo) e festas populares (vermelho e laranja). São pesquisas como essas que pautam os planos do ministro para os próximos meses, como o lançamento pela Caixa Econômica Federal de um cartão de crédito especial para turismo no Brasil. A seguir os principais trechos da entrevista que Mares Guia concedeu a ISTOÉ, na terça-feira 8:

ISTOÉ – Os números do turismo no Brasil vêm crescendo. O que está sendo feito para manter esses bons resultados?
Walfrido Mares Guia –
Eu diria que trabalhamos em três frentes: a primeira são as promoções, tanto no Brasil quanto no Exterior, em feiras especializadas, workshops, seminários. Temos aproveitado todas as viagens do presidente Lula e o que o Brasil tem de melhor: as diversidades da natureza e da nossa cultura. A segunda área que começamos a trabalhar é o apoio à comercialização. Você promove, divulga, mostra os destinos e tem que ajudar também na comercialização dos vôos charters e dos novos vôos regulares. E há uma terceira frente, que é o marketing, para atingir o consumidor final. A promoção, o apoio à comercialização e o marketing são o tripé que faz com que o Brasil esteja mais conhecido lá fora.

ISTOÉ – Quanto foi gasto nas ações de promoção?
Mares Guia –
No ano passado, gastamos cerca de US$ 40 milhões. Para este ano temos US$ 65 milhões. Estamos repetindo algumas feiras, participando com maior eficácia em algumas delas e levando cada vez mais empresários. O governo organiza as feiras, mas são os empresários que devem estar lá para vender seus Estados no mercado internacional.

ISTOÉ – Quais os destinos preferidos pelos turistas?
Mares Guia –
O Rio de Janeiro está em primeiro, seguido por São Paulo. Depois vêm Salvador, Recife, Foz do Iguaçu e Búzios. Quase 40% dos turistas estrangeiros que vêm ao Brasil querem conhecer o Rio, adoram a cidade e 97% querem voltar. Em duas pesquisas diferentes perguntamos o que eles achavam
de bom e de ruim. Primeiro eles diziam que adoravam o povo brasileiro, a alegria
e a cordialidade. Os pontos negativos foram: a sinalização, o baixo nível de atendimento e a exploração dos taxistas na temporada. Apenas 8% dos turistas entrevistados se preocuparam com a segurança. Outra coisa que eles falaram
é que o Brasil é um país colorido.

ISTOÉ – Como assim?
Mares Guia –
Perguntamos que cores eles vêem aqui. A maioria respondeu que quando chega ao Brasil só vê verde. O azul, em razão das praias, vem em segundo. Já o branco é identificado com a religião, por causa das baianas, do sincretismo e de Iemanjá. A outra cor que aparece é o amarelo, e não tem nada a ver com o ouro, mas com a areia e o sol. E, para surpresa nossa, aparecem o vermelho e o laranja, no mesmo nível das outras cores, associados às festas populares. Eles acham que toda música nossa é samba e toda festa é Carnaval.

ISTOÉ – Quando o turista brasileiro vai poder viajar pelo País sem ter que enfrentar estradas esburacadas, passagens aéreas caras, péssimos serviços…?
Mares Guia –
Acredito que a partir deste ano tudo isso vai melhorar. Se você pegar o orçamento do Ministério dos Transportes, ele tem R$ 4,2 bilhões.

ISTOÉ – Turismo interno ainda é para poucos?
Mares Guia –
Estamos preparando um plano que envolva toda a rede hoteleira do Brasil, as companhias aéreas e as agências de viagens para atuar na baixa temporada. Passado o pico do verão, os hotéis ficam menos ocupados, os aviões com mais acentos vazios. Queremos que todos entrem no jogo e joguem no chão os seus preços.

ISTOÉ – Mas com essa crise no setor aéreo…
Mares Guia –
O setor aéreo não está em crise. Apenas temos uma empresa aérea em dificuldade, que é a Varig.

ISTOÉ – Mas é a principal empresa do setor…
Mares Guia –
Não é mais. A TAM tem 42% do mercado, a Varig tem 30% e a Gol está chegando perto. Estamos torcendo para que a Varig tenha uma solução, porque a crise é dos seus acionistas, que não têm como capitalizar a empresa. O setor aéreo está crescendo 19% ao ano; a economia cresceu 5,2%; o turismo 12%; e os desembarques domésticos 19%. A questão da Varig será resolvida dentro do mercado e de acordo com as leis estabelecidas. A nova Lei de Falências teve um artigo incluído a pedido das companhias aéreas e do mercado. Estou informado de que os controladores da Varig estão dispostos a salvar a empresa.

ISTOÉ – E a reforma ministerial, o sr. permanece no cargo?
Mares Guia –
O presidente Lula tem manifestado satisfação com o desempenho do Ministério do Turismo. Represento o PTB, e o partido também
está satisfeito e já disse que não quer trocar o ministério. O PTB quer ampliar o
seu espaço, mas não necessariamente trocando de ministério. Então, acredito
que, salvo melhor juízo, não terá nenhuma surpresa. Tenho recebido muito
apoio do presidente, pessoal e político.

ISTOÉ – Quer dizer que o sr. não vai aceitar o Ministério do Planejamento?
Mares Guia –
Não, não. Se fosse para resolver um problema para o presiden-
te, mas não é. A economia está muito bem equacionada e bem conduzida. O Plane-
jamento é um ministério técnico e eu tenho muito mais eficácia ficando em um posto finalista do que em um intermediário. Já fui secretário do Planejamento em Minas Gerais e sei que é um ministério no qual você mais nega do que atende. Agora, estamos na chuva para molhar. O presidente precisando, eu estou aí para ajudá-lo.