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A reeleição do governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB) com 57% dos votos válidos no maior colégio eleitoral do País mais do que levar os tucanos para 24 anos ininterruptos no comando de São Paulo representa a aprovação dos paulistas a um modo de governar que remete a 1982. Há 32 anos, quando Franco Montoro se elegeu governador, o Palácio dos Bandeirantes passou a ser uma espécie de Meca aos prefeitos. Mas não com a velha lógica do pires na mão, que costuma pautar o relacionamento dos executivos municipais com os governos estaduais. Essa prática, em São Paulo, ganhou novos contornos e analistas políticos a definem como uma espécie de municipalismo não institucionalizado.

Com Montoro, foram criados pólos regionais de desenvolvimento e a participação dos prefeitos na formulação das políticas públicas ficou mais ativa. A simples distribuição de recursos foi substituída por maior protagonismo das cidades. Uma política que Orestes Quércia – sucessor de Montoro – aprimorou e que depois foi mantida pelos demais governos. Os resultados eleitorais são cada vez mais visíveis. Desde 1994, quando o PSDB começou com Mário Covas seu ciclo de poder no Estado, a composição da Assembléia Legislativa, se dá com maioria dos deputados proveniente do interior — muitos deles ex-prefeitos — e invariavelmente ligada ao governador.

Essa é uma importante parte do segredo de Alckmin, um governador que não tem uma marca de gestão definida, não apresenta um cardápio de obras faraônicas e nem possui carisma especial. Mas é reeleito com mais de 57% dos votos válidos carregando o desgaste natural de um partido que comanda o Estado há 20 anos. E com agravantes. Nessa eleição, Alckmin entrou com a segurança pública sob o domínio do crime, falta d’água, mobilidade urbana em frangalhos e fortes denúncias de corrupção no Metrô.

A força que elege os seguidos mandatos do PSDB é silenciosa. Ela vem do interior. São votos que cada prefeito e cada vereador faz de questão de ir buscar quase que porta a porta. Nas cidades médias e pequenas pouco importa o partido a que pertença o prefeito, ele estará ao lado do governador. Ele se sente acolhido pelo governo estadual e se não recebe o volume de recursos que deseja, recebe obras tanto da administração direta como das empresas públicas. Apenas para ilustrar isso, nas duas últimas semanas, cerca de 60 prefeitos filiados ao PMDB manifestaram apoio a Alckmin. Não foi preciso nenhum ato formal e nem propaganda no horário eleitoral. Mas, com certeza foram os responsáveis por parte expressiva da votação do tucano. E dessa vez, o PMDB tinha um candidato, Paulo Skaf, que entrou na disputa sem muita pretensão, mas que em determinados momentos da campanha flertou com a possibilidade de chegar a um segundo turno.