presidente Lula tomou uma decisão radical na briga com o prefeito do Rio, Cesar Maia, por causa da administração do Sistema Único de Saúde na cidade. O governo decretou, na quinta-feira 10, estado de calamidade pública na rede de hospitais, assumindo a condução de um quadro calamitoso, com cenas rotineiras de pacientes desesperados por falta de atendimento, médicos, equipamentos e remédios. O Ministério da Saúde passa a gerir seis hospitais que atendem mais de cinco mil pacientes por dia, inclusive o Souza Aguiar (Centro) – a maior emergência da América Latina – e Miguel Couto (zona sul). Ambos eram do município e foram a única discordância do prefeito em relação à medida federal. “Só concordo com dois terços do decreto: o governo federal reassumindo seus hospitais, Cardoso Fontes, Lagoa, Ipanema e Andaraí”, disse a ISTOÉ. E ironizou, em referência à sua candidatura a presidente: “Dizem que houve um aumento das minhas intenções de voto.”

Logo após a reeleição, o prefeito prometeu entrar na Justiça para devolver os hospitais federais repassados ao município, afirmando que faria uma economia de R$ 92 milhões. Mas com o decreto da semana passada o município deixará de receber R$ 780 milhões anuais do Sistema Único de Saúde (SUS), que serão repassados diretamente ao governo estadual. São belicosas as relações entre o prefeito e a governadora Rosinha Matheus, que também vive em pé de guerra com o governo federal. Para o ministro da Saúde, Humberto Costa, a prefeitura apostou no impasse e essa seria a única solução para normalizar o atendimento. “Por isso montamos uma operação de guerra”, afirmou Costa.

A operação inclui a compra emergencial – sem licitação – de remédios, equipamentos e insumos. O ortopedista Sérgio Côrtes, alvo de ameaças de morte por denunciar corrupção à frente do Instituto de Traumato Ortopedia, foi nomeado coordenador-geral da intervenção por prazo indeterminado. A medida agradou às entidades médicas. “O remédio foi duro, amargo, mas necessário”, disse Jorge Darze, presidente do Sindicato dos Médicos. “Há algum tempo a população vive
em estado de calamidade, reconhecida agora pelo governo”, completou Aloísio Tibiriçá, do Conselho Regional de Medicina. Todos concordam que o tratamento
de choque era necessário. Resta saber se a mudança de rumo beneficiará a população que usa o serviço público.