O novo time de Lula deve entrar em campo na segunda-feira 14. “Sou que nem técnico da seleção. Vocês só vão saber na hora de entrar em campo”, avisou o presidente aos jornalistas, na quinta-feira 10, prorrogando a angústia que envenena há cinco meses candidatos a ministros e, por tabela, paralisa o governo. O culpado de sempre é o PT velho de guerra. Quando não é briga para entrar, é para não sair do poder. “Eu estou pensando”, disfarçou Lula, antes de se recolher ao futebol do fim de semana na Granja do Torto, onde jogou ao lado dos ex-craques e irmãos Raí e Sócrates. O resto da semana, Lula enfrentou caneladas de amigos e aliados no jogo bruto para entrar no time ou garantir sua permanência nele. “A conta não fecha: tem mais gente querendo entrar do que vaga”, brincou o líder do PT no Senado, Aloizio Mercadante (SP). Na cabeça do presidente, a conta não fecha porque o PT é o partido que joga pesado: dá carrinhos há meses no ministro da Articulação Política, Aldo Rebelo (PCdoB-SP); trombadas na senadora Roseana Sarney (PFL-MA), cotada para as Comunicações; botinadas no senador Romero Jucá (PMDB-RR), que pode ir para o Planejamento ou a Previdência. O partido faz marcação cerrada para manter Olívio Dutra, fundador da legenda, da pasta das Cidades. E arreganha os dentes para o neo parceiro de poder, o PP de Severino Cavalcanti, o novo presidente da Câmara.

Mais do que futebol, Lula se viu embrulhado nos lances de um xadrez insolúvel. “Se o PMDB estivesse unido, eu não precisaria estar correndo atrás de outras legendas”, lamentou-se com um assessor. A versão oficial da conversa de duas horas com a cúpula do PMDB, na quarta-feira 9, mirou o futuro: “Lula quer uma aliança estratégica com o PMDB, no governo de coalizão e na aliança de 2006”, disse o presidente do Congresso, Renan Calheiros, ao final da reunião. De olho na reeleição, Lula sabe que precisa arrumar a casa e ajustar o time para entrar na campanha em posição vencedora. “O governo quer um choque de gestão e eficiência”, afirmou um dos assistentes de Lula. Os alvos centrais são a Saúde e a Previdência, símbolos de desgaste e desperdício oficial. Por isso, os ministros Humberto Costa (PT-PE) e Amir Lando (PMDB-RR) estão no olho do furacão. No lugar de Costa, Lula quer o multifuncional Ciro Gomes (PPS), que deixaria a Integração Nacional para o peemedebista Eunício Oliveira (Comunicações). A vaga de Eunício ficaria com Roseana Sarney, que o PT combate alegando que ela é herdeira de um império de rádio e tevê no Maranhão e afiliada da Rede Globo.

O PTB também temia Roseana, que poderia substituir Walfrido Mares Guia no Turismo. Walfrido, no entanto, foi convidado pelo próprio Lula na quarta-feira para ocupar o Planejamento, mas ele preferiu ficar onde está. De quebra, o PTB ganhou a presidência do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB) e uma diretoria dos Correios, além de manter a presidência da Eletronorte. O drama de Lula é onde acomodar o PP de Severino. O PT chiou com a gula pepista pelo Ministério das Cidades, mas Olívio Dutra sobreviveu mais uma vez: “Olívio é um fundador histórico do PT e eu não posso abrir mão dele”, justificou Lula a um amigo. Até o poderoso Antônio Palocci (Fazenda), que defendia o deputado Paulo Bernardo (PT-PR) e vetava o senador Jucá para o Planejamento, exasperou o presidente: “Palocci, você sempre resolve os seus problemas, nunca os meus.” Só para contrariar, Lula chegou a pensar em deslocar o curinga Ciro Gomes para o BNDES e trazer Guido Mantega de volta para o Planejamento.

Lula eriçou-se ao saber da reação de um deputado à sondagem de um emissário do Planalto: “O negócio da política é econômico: quanto eu ganho, quanto eu levo”, disse o parlamentar da base. O Planalto ficou ainda mais irritado com o PP, que escancarou sua tese de só aceitar Ministério de cabo a rabo, controlado integralmente por um só partido. Diante da reação, um cartola do PP esclareceu: “Não é porteira fechada, é verticalização. É a mesma coisa, mas é mais elegante.” Lula cogitou chamar João Paulo Cunha para a vaga de Aldo Rebelo na coordenação política, mas esbarrou na condição do ex-presidente da Câmara: “Só vou se tiver todos os poderes.” Como não os terá, o ministro José Dirceu (Casa Civil) deve voltar ao posto que era seu, até o caso Waldomiro, acumulando a função de coordenador político com a de gerentão do governo. Tudo isso passava pela cabeça do técnico do time, na quinta-feira 10, quando explodiu a crise que levou à intervenção federal nos hospitais do Rio de Janeiro. A briga com o prefeito Cesar Maia, presidenciável do PFL, obrigou Lula a deslocar Humberto Costa, 17 advogados do Ministério e uma tropa da PF para ocupar a capital fluminense. A batalha deve imunizar, por enquanto, Costa e anestesiar a reforma de Lula.