Habituado a trabalhar investigando crimes, o promotor Alexandre Vasconcelos, do Ministério Público do Rio de Janeiro, virou alvo de investigação. Tudo por conta do vídeo no qual aparece seu pai, Francisco Vasconcelos, conhecido como Chicão, usando o nome do promotor para tentar extorquir um dos acusados em processo tocado pelo MP. No diálogo, revelado por ISTOÉ na última edição, Chicão – diretor do Fluminense até o ano passado – cobra R$ 200 mil de Francisco Aguiar, vice-presidente afastado da Federação de Futebol do Rio de Janeiro, para amenizar sua situação como um dos réus na ação que trata
de evasão de renda no Maracanã. Segundo Chicão, seu filho sabia de tudo. A revelação de ISTOÉ levou o procurador-geral de Justiça do Rio de Janeiro, Marfan Vieira, a abrir uma investigação. “Denúncias graves como essa devem ter apuração rigorosa”, justificou.

No mesmo dia em que a revista chegou às bancas, Alexandre Vasconcelos escreveu ao procurador pedindo que fossem apurados os “fatos noticiados”. Solicitou afastamento de suas funções na 1ª Central de Inquéritos e autorizou a quebra de seus sigilos bancário, fiscal e telefônico, apesar de manifestar “repúdio” às acusações. Chicão sumiu do mapa. O promotor também é acusado por Aguiar de persegui-lo desde que os dois discutiram no Maracanã, há três anos, quando Alexandre era representante do Fluminense junto à Federação.

Providências – Segundo a assessoria de imprensa do MP, em fevereiro, o Órgão Especial do TJ rejeitou queixa-crime em que os diretores afastados da Federação de Futebol acusam Alexandre de prevaricação e abuso de poder. Agora, Marfan Vieira pediu providências à Corregedoria do MP e instaurou apuração do “possível ilícito penal” imputado ao promotor. O prazo de investigação é de 30 dias. Um dos pontos a serem apurados é o motivo que levou Chicão a dar como endereço a mesma rua, o mesmo número e andar do Ministério Público, numa queixa de ameaça de agressão que ele e seu filho prestaram na 9ª Delegacia Policial, em 2003.

Acreano de 57 anos, Chicão mostrou desenvoltura na conversa em que tenta extorquir Aguiar, mas não respondeu aos pedidos de entrevista feitos por ISTOÉ. Apesar de frequentar por muitos anos o Fluminense, do qual foi diretor, poucos no clube conhecem as atividades profissionais que ajudam a sustentar seu padrão de vida. Chicão mora em um apartamento próximo ao Fluminense, no bairro de Laranjeiras. Seu último emprego foi em 1997, na Ecolab Química, empresa pela qual se aposentou. Apesar de não ter direito a foro especial, Chicão será investigado por um órgão interno do próprio MP, já que a denúncia é considerada um fato conexo à investigação sobre o promotor estadual.