Quando o escritor português José Saramago morreu em junho de 2010, deixou incompleto o que seria um novo romance de sua autoria. Mais de quatro anos depois, “Alabardas, Alabardas, Espingardas, Espingardas” chega finalmente às livrarias brasileiras pela Companhia das Letras.

abre.jpg

Livros póstumos e inacabados são constantes no mercado editorial – ou se lança aquilo que o autor não quis publicar em vida por não considerar um trabalho de qualidade, ou editoras passam décadas recuperando textos inéditos de maneira esporádica, sempre garantindo se tratar da última obra encontrada do escritor.

No caso de Saramago, o Prêmio Nobel de Literatura já havia afirmado que “Alabardas” seria seu canto do cisne e que planejava passar o resto dos seus dias lendo e descansando. Pilar del Río, sua víuva, garante que este é mesmo seu derradeiro livro e que o público
não deve esperar outra obra inédita.

Nos três capítulos remanescentes da obra, cujo título faz referência a um trecho de “Exortação da Guerra”, de Gil Vicente, Arthur Paz Semedo é o funcionário exemplar de uma fábrica de armas que nunca questiona sua profissão ou seus superiores. Após ser abandonado pela mulher, uma pacifista radical, tudo indica que ele não continuará capaz de manter sua indiferença em relação à vida.

IEpag100e101_arte_saramago-2.jpg
PÓSTUMO
Capa da edição brasileira de "Alabardas, Alabardas, Espingardas, Espingardas"

A ideia inicial surgiu quando o autor refletia sobre o porquê de nenhum caso de greve em uma fábrica de armamentos ser conhecido. Saramago usa um personagem burocrata para fazer uma reflexão sobre a teoria da “banalidade do mal” criada pela filósofa Hannah Arendt. 

Além dos capítulos escritos por Saramago, a edição brasileira conta com anotações feitas durante o processo de escrita, com textos do ensaísta espanhol Fernando Gómez Aguilera, do antropólogo brasileiro Luiz Eduardo Soares e do escritor italiano Roberto Saviano e com ilustrações do alemão Günter Grass.

Foto: PIERRE-PHILIPPE MARCOU/AFP PHOTO