Singularidades/Anotações: Rumos Artes Visuais 1998-2013/ Itaú Cultural, SP/ até 26/10

É muito interessante ver os personagens impalpáveis da videoinstalação “Espera” (2013), de Gisela Motta e Leandro Lima, cercados pelos “Observadores” (2013) das pinturas a óleo de Tatiana Blass. Ou mesmo o videorregistro do dispositivo de destruição de telefones celulares
de Lucas Bambozzi ganhar ressonância nos estilhaços brilhantes de “Substrato Econômico 2”, de Andre Komatsu, que se espalham pelos cantos do espaço expositivo do Itaú Cultural. Essa “contaminação” entre o que se convencionou chamar de “arte cibernética” ou “arte tecnologia” e o grande campo das artes visuais (pintura, escultura, objeto, instalação, performance, etc.) é a grande contribuição da exposição “Singularidades/Anotações: Rumos Artes Visuais 1998-2013”.

abre.jpg
ARTE IMATERIAL
Arrudas motorizadas compõem a obra "Gira", de Alexandre Vogler

A julgar pelo texto da artista Regina Silveira, que assina a curadoria com Aracy Amaral e Paulo Miyada, entende-se que esse fato foi cuidadosamente pensado. Ao escolher trabalhos de 35 artistas que representassem a evolução da produção artística brasileira, detectada nos 15 anos do programa Rumos do Itaú Cultural, a curadoria objetivou “juntar as duas áreas na mesma expografia, abrindo espaço para um contágio inevitável”, segundo Regina Silveira. Tanto melhor apreciar a interatividade de “Arvorar”, de Katia Maciel, ou de “O.lhar” (2012), de Raquel Kogan, dentro desse contexto, em vez de ambientes que isolam a experimentação em novas mídias em guetos que afinal se revelam estéreis.

“Singularidades/ Anotações” atesta que o uso de motores e sistemas robotizados não é estratégia exclusiva dos artistas do tal grupo “cibernético”. Entre as obras mais notáveis da exposição, “Gira” (2007-2013), de Alexandre Vogler, é composta por três vasos de arrudas giratórios, enfestando o ambiente do aroma dessa planta mágica, como em um ritual de despacho. A performance integra projeto de intervenção urbana do artista, que em 2007 causou a ira de evangélicos de Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro, ao pintar um enorme tridente em um morro da região.

Outro fator que sobressai dessa “exposição-resumo” é que o Rumos não apenas impulsionou o trabalho de centenas de artistas, como envolveu dezenas de curadores. Mas a curadoria foi incentivada apenas no Rumos Artes Visuais. Talvez esteja precisamente no fato de o Rumos Arte e Tecnologia nunca ter investido em pesquisas de equipes curatoriais a razão de esse segmento de produção não ter amadurecido e se projetado como ocorre em países como a Alemanha e os EUA. Espera-se que a experiência bem-sucedida dessa exposição represente um incentivo para a “junção duradoura” entre as artes visuais e “essa fatia de artistas de linhagem já secular que se dirigiu para os novos meios à disposição em seu tempo”, segundo Regina Silveira.

Fotos: Divulgação