A lista dos regimes da moda ganhou mais um nome: a dieta do hCG. A dieta que conquista adeptos no País prescreve doses do hormônio gonadotrofina coriônica humana (a sigla em inglês é hCG) por cerca de 40 dias consecutivos. A substância é fabricada nos primeiros dias de gravidez e pode ser indicada em tratamentos de infertilidade e alterações no desenvolvimento de ovários e testículos.

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EFEITO COLATERAL
Mônica interrompeu o regime após dez dias depois
de sentir tonturas e problemas gástricos

A perda de peso acelerada foi o que atraiu a empresária Graciete Affini, de São Paulo. “Fiz exames antes de usar o hCG e conversei com o médico. Em 15 dias, perdi dez quilos e não tive efeito colateral.” Ao contrário de Graciete, a produtora Mônica Cosas, de Recife, não permaneceu na dieta. Ela queria se livrar de cinco quilos, mas interrompeu as injeções de hCG dez dias depois de começar a tomá-las. “Sentia fraqueza, tontura e tive problemas gastrointestinais”, conta. Ela também descobriu que tivera uma crise de hipotensão postural – queda na pressão arterial ao ficar em pé. “O médico disse que a doença se manifestou porque eu estava desidratada e tive infecção intestinal. Não se pode afirmar que algum desses problemas esteja ou não relacionado à dieta. Não há estudos e os sintomas coincidiram”, diz.

O regime teve seu primeiro momento de fama nos anos 1970. Agora, voltou com força. Para conter sua expansão, a agência reguladora americana FDA decidiu que a publicidade de produtos contendo o hormônio deve informar que ele não demonstrou ser uma terapia eficaz no tratamento da obesidade. Depois dos EUA, a dieta se popularizou em países como Argentina e Equador e agora se espalha pelo Brasil na base do boca a boca.

Mônica foi informada por seu médico que o hormônio a protegeria da perda de músculos que ocorre na dieta de baixas calorias a que se submeteria. Já Graciete ouviu que o hCG facilitaria a queima da gordura acumulada. Outro especialista disse que o hormônio simula uma gravidez e leva o corpo a consumir mais gordura para complementar o aporte de calorias necessário para se nutrir e nutrir o feto. Fica evidente o desencontro nas informações sobre a ação do hormônio. A pessoa emagrece, mas não sabe por quais mecanismos. Um é óbvio: a restrição calórica imposta pelo regime.

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Dois médicos que indicam a dieta procurados por ISTOÉ não quiseram dar entrevista. Um terceiro disse que daria as informações, mas não iria se expor porque o hormônio é usado de modo off-label (a indicação não consta da bula). No entanto, remédios aprovados para diabetes, como o liraglutide (Victoza) e exenatide (Byetta), são abertamente ministrados de modo off-label contra a obesidade. A diferença é que há estudos comprovando sua eficácia no emagrecimento. Já sobre a ação do hCG, não há pesquisas que documentem sua eficiência ou possíveis efeitos colaterais.

Para o endocrinologista Walmir Coutinho, presidente da Federação Mundial de Obesidade, não há relatos de graves danos colaterais a longo prazo por causa da dieta, mas o hCG não ajudaria em nada o emagrecimento. “O que leva à perda de peso nessa dieta é a grande restrição calórica”, diz. “Mas a chance de recuperar os quilos perdidos é alta quando a pessoa retoma a alimentação normal”, diz.