O casal de noivos Ricardo Ribeiro da Silva, 29 anos, e Andressa Linhares, 24, teve seu primeiro encontro em um lugar até então pouco usual: uma sala de bate-papo de uma rede social. Em 2008, os dois jovens se conheceram num grupo de discussão sobre a banda de rock americana Incubus, em uma dos mais de 52 milhões de comunidades do agora extinto Orkut. O site, primeira rede social de sucesso entre os brasileiros, saiu do ar na semana passada, deixando milhares de usuários saudosos. Segundo o Google, o fechamento foi necessário para concentrar energias e recursos em outras plataformas do grupo, como YouTube, Blogger e Google+. A decisão do gigante da tecnologia, no entanto, gerou protestos de internautas brasileiros, que criaram até uma petição online para impedir a extinção da página. O pedido, porém, não surtiu efeito. No dia 30 de setembro, o Orkut chegou a seu aguardado e lamentado fim.

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AUSÊNCIA
O paulista Felippe Garcia, moderador da comunidade "Doentes por Futebol",
acessava o Orkut todos os dias desde 2004

Criado nos Estados Unidos, em 2004, pelo desenvolvedor turco e funcionário do Google, Orkut Büyükkökten, o site se manteve como a rede social mais popular do mundo durante sete anos, e grande parte desse desempenho se deveu aos usuários brasileiros. Apenas cincos meses após seu lançamento, 31% da audiência do Orkut vinha do Brasil e, um ano depois, esse número chegou a 50%. Em 2009, no auge da popularidade, 75% dos internautas brasileiros, um contingente de 35 milhões de pessoas, acessavam o site diariamente. No fim de 2011, contudo, o Orkut perdeu o primeiro lugar para o ascendente Facebook e, meses antes de seu fechamento, registrava apenas seis milhões de acessos mensais mundiais, contra cerca de 67 milhões do principal concorrente.

Apesar do desprestígio e da crescente queda de acessos, muitos integrantes do Orkut continuavam frequentando o site, especialmente por conta das comunidades de discussão sobre os mais variados tópicos, recurso que não é oferecido da mesma forma pelo Facebook. O sucesso de determinadas comunidades foi tão grande que algumas até viraram um negócio. Caso do fórum de discussão “Doentes por Futebol”, que reunia mais de dez mil integrantes e hoje é uma empresa de conteúdo que atinge milhões de internautas no Brasil. Um dos administradores da “Doentes”, o publicitário paulista Felippe Garcia, 30 anos, lamenta o fim da rede social onde nasceu sua empresa. “Eu acessava o Orkut todos os dias, há dez anos. Usava o site como uma ferramenta para debates e para adquirir conhecimento”, diz. “A notícia de que o Orkut encerraria suas atividades foi triste. Sem dúvidas irei sentir falta”, afirma o empresário, que, a exemplo de muitos outros brasileiros, já migrou para a rede social russa VK, uma espécie de Facebook europeu que permite a criação de grupos de discussão ao estilo do Orkut.

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AMOR NA REDE
Os noivos Andressa Linhares e Ricardo Ribeiro se
conheceram em uma comunidade do extinto site

O conteúdo das comunidades da finada rede social, entretanto, não está perdido. Desde o encerramento do Orkut, qualquer pessoa que acessar o endereço do site poderá ler os tópicos e comentários de todos os grupos de discussão públicos criados entre janeiro de 2004 e setembro de 2014. Criar um tópico ou comentário novo, porém, não é permitido. Os antigos usuários também terão até 2016 para salvar fotos, perfis e dados de comunidades por meio do Google Takeout. O casal Ricardo e Andressa fez questão de salvar os álbuns de fotos que exibiam no Orkut, com imagens que marcaram sua história. “Eu tinha no Orkut a foto do nosso primeiro encontro pessoalmente”, conta Andressa. Apesar de não acessar mais o site, a empresária catarinense também se diz chateada com o fim da rede social. “O Orkut tinha um perfil mais família do que qualquer outra rede social. Lá fiz muitos amigos e conheci meu futuro marido”, diz Andressa. “Era um clima amigável e feliz. Já no Facebook tem muita briga”, diz.

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