Escoltado por três viaturas da Polícia Federal, que partiram do aeroporto do Galeão no Rio de Janeiro, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, voltou para a casa no fim da tarde da última quarta-feira 1. Delator do esquema bilionário de desvios de recursos públicos na estatal ele ficará pelo próximo ano sob regime de prisão domiciliar. Em frente ao portão de sua luxuosa residência três policiais federais se revezarão para impedir uma eventual tentativa de fuga, mas também para garantirem a segurança de Costa. Esta última preocupação aumenta porque, longe dali, na Superintendência da Polícia Federal do Paraná, em Curitiba, o velho parceiro de Costa, o doleiro Alberto Youssef, também resolveu delatar. Dupla do barulho: Costa era o executivo encarregado de assaltar os cofres da estatal; Youssef, o “banqueiro” do esquema, que aceitou um acordo de delação premiada. O doleiro promete entregar as contas no exterior e o caminho de remessas de dinheiro feitas para políticos e autoridades. A soma das duas delações tem potencial de estremecer a República.
Enquanto a polícia fecha os elos da quadrilha, Costa levará uma vida melhor que a de Yousef, que continuará preso pelo menos por mais dois anos, por ser reincidente nos crimes pelos quais é acusado. A mansão de Paulo Roberto tem estrutura de spa, com quadra de esporte, piscina, churrasqueira e uma área verde grande o suficiente para passeios e caminhadas. Políticos que já frequentaram a casa do ex-diretor dizem que será como se ele estivesse em um hotel de luxo. Oficialmente as visitas são proibidas, mas familiares podem transitar livremente pela residência. Costa, monitorado por meio de tornozeleira eletrônica, vai contar ainda com uma equipe de empregados formada por quatro funcionários e será possível utilizar telefone e internet nas dependências da residência. “Estar em casa representa uma vitória para o delator”, reconhece sua advogada Beatriz Cattapreta. Os detalhes dos quase 100 depoimentos dados por Costa ao juiz Sergio Moro, da 13ª Vara Federal em Curitiba, convenceram o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Teori Zavascki, a validar o acordo de delação na semana passada e conceder a maioria das exigências feitas pela defesa em troca dos detalhes do esquema criminoso. A negociação foi costurada por Cattapreta.

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QUADRILHA
Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Petrobras, e o doleiro Alberto Youssef,
seu parceiro no assalto aos cofres da estatal

Além de cumprir um ano de prisão em casa, Paulo Roberto Costa ganhou o direito a ter arquivado os fatos que surgirem contra ele a partir desta semana e recebeu a garantia de que parte da pena a qual for condenado será cumprida em regime semiaberto. O acordo foi estendido para a esposa, as filhas e genros do ex-diretor, que foram usados como laranjas no esquema e tentaram destruir documentos dias depois de sair a primeira ordem de prisão contra Paulo Roberto Costa, em março, no início das apurações da Operação Lava-Jato.

As vantagens concedidas ao ex-diretor da Petrobras são um sinal de que a delação deve levar muita gente para a mira da Justiça. Ao justificar a homologação do acordo, o ministro Teori afirmou que há elementos indicativos do “possível envolvimento de várias autoridades detentoras de prerrogativa de foro perante tribunais superiores, inclusive de parlamentares federais”. Em seu despacho, o ministro afirmou ainda que há nos depoimentos de Paulo Roberto Costa indícios de “vantagens econômicas ilícitas oriundas dos cofres públicos”.

Em troca do conforto de estar casa e da imunidade para a família, Paulo Roberto Costa se comprometeu a devolver ao Estado uma fortuna que amealhou com os desvios de dinheiro a estatal. Ele vai pagar multa de US$ 5 milhões como forma de indenizar o Estado e repatriar US$ 23 milhões de contas bancárias na Suíça. O dinheiro seria fruto de propina referente ao contrato da bilionária obra da refinaria Abreu e Lima. Além disso, ele vai entregar à Justiça uma Range Rover, avaliada em R$ 250 mil, e uma lancha de luxo orçada em R$ 1,1 milhão. Ao todo, serão mais de R$ 60 milhões repatriados apenas pela delação de Costa – um recorde para o Ministério da Justiça, que não vem tendo sucesso na recuperação de ativos.

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Segundo o ex-diretor, todo esse patrimônio devolvido foi resultado da atividade criminosa evolvendo políticos e empreiteiras. O doleiro Alberto Youssef iniciou o acordo de delação premiada na quinta-feira 2. O depoimento do doleiro, acusado de lavar o dinheiro do esquema, será juntado com a delação de Paulo Roberto Costa. A expectativa é de que ele possa fornecer detalhes que outros integrantes da quadrilha não souberam explicar, dado a sua posição de comando no esquema. Com base nas informações coletadas, o ministro Teori vai decidir sobre a abertura de ações penais para investigar políticos com foro no STF. Casos envolvendo governadores serão enviados ao Superior Tribunal de Justiça. Os danos das delações podem ser irreparáveis para poderosos políticos acostumados a usufruir das estruturas públicas para se locupletarem.