Soterrada por toneladas de lama, terra e água, a tradicional alegria do Réveillon não resistiu até a chegada do sol na manhã do primeiro dia de 2010. O Brasil entrou no último ano da primeira década do novo milênio contando vítimas de tragédias. Atenção para o plural: não foi apenas uma, mas várias. Espalhadas por várias cidades, em vários Estados, as histórias dramáticas de vidas destroçadas por deslizamentos, enchentes e enxurradas nos acordaram, de forma dolorosa, para uma realidade que sempre procuramos evitar. Estamos cada vez mais vulneráveis à ação de um clima cada vez mais inclemente. Ele já mudou, nós não. As manifestações meteorológicas da natureza estão mais violentas e frequentes. Nós permanecemos tolerantes com o improviso, o descumprimento das leis, a despreocupação em elaborar políticas que nos deem ordem e segurança. Nós ainda não estamos sequer pensando em nos preparar para este mundo diferente.

Vivemos hoje em um país que cresce, mas precisamos que ele também avance e se desenvolva para que possamos nos sentir seguros. Se não faltam conquistas econômicas e sociais recentes que aproximam o País do futuro, também são abundantes as imagens que nos empurram de volta ao passado. No Brasil, morre-se porque se permite que casas sejam construídas onde não deveriam estar. No Brasil, inicia-se uma viagem sem saber se é possível chegar ao destino. No Brasil, planta-se sem saber se haverá estradas para escoar o que se produz. Nas grandes cidades do Brasil, tem-se tanto medo de nuvens negras quanto de um bandido. Diante de ambos, as pessoas sentem-se indefesas, frágeis e impotentes. Para se falar em desenvolvimento, é preciso mudar também esse quadro de tragédias.


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