Esta lição os paleontólogos aprendem na primeira escavação: um fóssil nunca está sozinho. Três anos atrás, os pesquisadores americanos Jim Kirkland e Doug Wolfe desenterraram na Bacia de Zuni, no Novo México, sudoeste dos Estados Unidos, o esqueleto de um zuniceratops, ancestral de dinossauros gigantes com chifres. Na semana passada, a dupla anunciou a descoberta de dois novos dinossauros na mesma região. Um deles é o coelurossauro, carnívoro de duas patas, movimentos ágeis, um metro de altura e 2,3 de comprimento. O outro é um nothronychus, animal de aparência bizarra, meio ave, meio dinossauro, com garras de dez centímetros de comprimento, três metros de altura, até seis de comprimento e uma tonelada de peso. Enquanto o coelurossauro se alimentava de pequenos lagartos e mamíferos, seu vizinho preferia as plantas.

Os dois, do grupo dos terizinossauros, são os primeiros descobertos na América e teriam vivido há 90 milhões de anos, no período Cretáceo. O planeta, naquela época, sofria profundas mudanças climáticas. Vulcões estavam em intensa atividade. Um superaquecimento derreteu as calotas polares e elevou o nível dos oceanos. A extensão de terra firme diminuiu, tornando raros os sítios de preservação de fósseis daquele tempo. Outros exemplares de terizinossauros tinham sido encontrados até agora apenas na China e na Mongólia. “É o primeiro achado da lacuna do Cretáceo, um intervalo na história do ecossistema da América do Norte nesse período”, comemorou o paleontologista Doug Wolfe.

Penas – Quanto mais se sabe sobre os dinossauros, no entanto, mais perguntas aparecem. “Eles migraram da Ásia para a América, da América para a Ásia, ou saíram de um terceiro lugar?”, questiona o paleontólogo do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, Alexander Kellner, um dos maiores especialistas no Brasil. A relação entre os pássaros e os répteis gigantes também é outro tema que há anos se debate, sem conclusões. Há teorias de que os pássaros descendem dos dinossauros – alguns dos fósseis descobertos apresentam vestígios de penas, que teriam servido para aquecer o corpo dos animais. Os dois fósseis encontrados no Novo México apresentam o que se chama de “protoplumagem”, um indício de penugem. “Não se sabe quantos grupos de dinossauros tinham penas. E o simples fato de eles terem penas não significa que elas estejam na linha evolutiva das aves”, argumenta Kellner.

Os paleontólogos vão precisar desenterrar muitos fósseis para construir respostas convincentes. Se eles dominaram o planeta durante 150 milhões de anos, estima-se que sua população tenha sido infinitamente maior do que os 1.500 tipos descritos até hoje nos trabalhos científicos. Os dinossauros viveram num momento único do planeta, a Terra estava se dividindo e florescendo. As brechas na história evolutiva dos répteis gigantes aumentam ainda mais o fascínio e o terror que esses bichos inspiram. Os lagartos que metem medo – significado da palavra grega dinosauria – sempre rendem audiência. Principalmente entre as crianças. Depois do fenômeno de bilheteria do longa-metragem Parque dos dinossauros, em 1993, as próprias redes de comunicação passaram a financiar escavações para transformar eventuais achados em filmes ou documentários para a tevê. A descoberta da dupla de dinossauros das Américas foi bancada e anunciada pelo canal de tevê pago Discovery Channel. Vai se transformar no documentário No tempo dos dinossauros, que será exibido no Brasil no dia 16 de setembro. Haverá ainda um concurso entre os telespectadores para batizar os novos dinossauros. Mas a palavra final será dos pais da descoberta, os paleontólogos Jim Kirkland e Doug Wolfe.

Colaborou Francisco Alves Filho

Crocodilo pré-histórico
Tem rabo, cabeça e pata de crocodilo. A principal diferença entre ele e outros répteis similares é a idade: 70 milhões de anos. Fósseis quase completos do bicho primitivo com nome científico de Mariliasuchs amarali foram encontrados na cidade de Marília, no interior de São Paulo, por pesquisadores do Departamento de Geologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e apresentados na semana passada. “Esse é um achado pouco comum. Por estar intactos, os fósseis permitem compreender todo o ciclo de crescimento, do ovo ao animal adulto”, afirma Ismar Carvalho, coordenador da pesquisa, que trabalhou em conjunto com a Universidade Estadual Paulista (Unesp). O jazigo de fósseis foi achado em 1998 e o primeiro exemplar, em 1999. O animal tinha 1,5 metro, possuía rosto curto e dentição reduzida, apropriada à alimentação de peixes e insetos. Possivelmente rastejava sobre a terra.