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É bem possível que você não conheça a mocinha com cara e pose de santa aí ao lado. Mas, acredite, muita gente conhece. É chover no molhado, hoje, discorrer sobre como há fenômenos pop incríveis acontecendo sem que precisem passar pelos canais da chamada “mídia convencional”. Mas quando tais fenômenos se materializam em forma de gente e de milhões de discos vendidos, por exemplo, ficam ainda mais instigantes.

A cantora Bruna Karla, a loirinha da foto, nasceu no morro da Congonha, numa comunidade pobre e numa família mais pobre ainda. Sem nenhuma ponta de constrangimento, na verdade com orgulho, ela relata que morava de favor com o pai, pedreiro, e a mãe, dona de casa, num pequeno imóvel atrás da igreja. E foi justamente nela que, muito menina, começou a cantar.

Como relatou à repórter Kátia Lessa, Bruna, hoje com 25 anos de idade, dos quais 13 de ministério, já nasceu em berço evangélico. Ela lembra que aos 3 anos subia na mesa da escola para simular cultos. Aos 5 pedia ao pastor para cantar na igreja e um ano depois já fazia shows em outros templos.

Bruna também lembra que, como não tinha computador nem televisão, não tinha muito acesso ao que rolava fora da comunidade evangélica. “Minha mãe arranjava umas fitas cassete de cantoras gospel e eu ensaiava igual. Fui muito humilhada na vida. As pessoas diziam: ‘Você mora aqui neste buraco. Ninguém nunca vai te ver. Você acha que um dia vai fazer sucesso na TV?’

Hoje, a mesma menina ostenta números que desafiam ídolos do porte de Ivete Sangalo e Claudia Leitte: nove milhões de fãs no Facebook, sete discos gravados e mais de cinco milhões de cópias dos seus cds vendidas.

Ela conta que se casou virgem e que até se arrepende de ter dado alguns beijos no rapaz que namorou antes de conhecer o marido. Diz também que vive brigando com a balança, que pretende treinar boxe para ficar em forma e que segue os preceitos de sua igreja sobre questões polêmicas como aborto e casamento gay. “Como serva de Deus, acho que a relação homossexual é pecado. Mesmo assim não concordo com as agressões aos homossexuais. Cada um escolhe ser o que quiser e é preciso respeitar isso. Mas acredito que orando a pessoa pode deixar de ser gay. Já ouvi muitos testemunhos na igreja de gente que mudou de vida e conseguiu ter uma família”, afirma com tom de pastora.

Ainda que opiniões e posições como essas devam provocar rejeição em boa parcela da sociedade, há algo que não se pode negar. Com todas as consequências nefastas que a tecnologia da informação e as redes digitais acabam gerando como subproduto, diversidade e espaços mais democráticos de mercado e de debate são, definitivamente, coisas a celebrar.