Alguns meses atrás, quando era confrontado com taxas recordes de rejeição à sua administração, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, reagia com tranquilidade. “Vamos ver no fim do mandato”, dizia. De algumas semanas para cá, o que poderia parecer ilusão ou autoengano deu lugar a uma nova realidade. A popularidade de Haddad cresceu e os elogios, antes raros, se tornam cada vez mais comuns. “Pode-se gostar ou não do prefeito, mas ninguém há de negar que São Paulo, agora, tem um rumo claro”, disse o ex-ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan.

Sim, São Paulo tem um novo rumo e ele está ancorado no transporte público ou em meios alternativos, como a bicicleta. Desde o início do mandato, Haddad já implantou 358 quilômetros de faixas exclusivas de ônibus e 78 quilômetros de ciclofaixas – que serão 400 até o fim de 2015. No caso dos ônibus, a velocidade média aumentou 68,7% com a mudança. Com as ciclofaixas, a expectativa do secretário dos Transportes, Jilmar Tatto, é de que o número de ciclistas, pelo menos, triplique. Especialmente, se for implantada a política de incentivos fiscais para as empresas que estimulem esse meio de transporte, com bicicletários e vestiários.

Naturalmente, numa cidade acostumada com o mito de que bons prefeitos são aqueles que fazem túneis, viadutos e “minhocões”, Haddad assumiu um risco considerável. Enfrentou a histeria dos setores mais conservadores da sociedade e contrariou interesses do próprio PT, que de alguns anos para cá se tornou um partido mais obreiro do que propriamente operário. No entanto, a possibilidade de reeleição daqui a dois anos, que antes parecia remota, hoje é concreta.

A São Paulo de 2016, provavelmente, será melhor do que a que Haddad recebeu em 2012. Do ponto de vista estético, a proliferação de ciclistas contribuirá para a melhoria da paisagem urbana e até para criar, nos paulistanos, uma sensação de “aggiornamento” em relação às outras metrópoles mundiais – com mais bicicletas, São Paulo será, ao mesmo tempo, mais bela e mais moderna. E se a elite aderir a um transporte público veloz e de qualidade, a cidade será também menos preonceituosa, desafiando a máxima do compositor Criolo, que disse que “Não existe amor em São Paulo”.

Nos planos de Haddad para civilizar a maior cidade do País, há, ainda, uma lacuna. Tão ou mais importante quanto incentivar o transporte público é estimular o trabalho remoto – o que é cada vez mais possível com as novas tecnologias de comunicação e transmissão de dados. São Paulo pode e deve se consolidar como uma cidade inteligente, onde o trabalho vai ao trabalhador – e não o inverso. Se as empresas permitissem, por exemplo, que 20% de seus funcionários trabalhassem em casa a cada dia da semana, isso equivaleria ao rodízio de veículos na capital. Traria também benefícios ambientais e contribuiria para valorização dos comércios locais, nos bairros residenciais. Mas já houve uma inflexão civilizatória na cidade.