Os culpados vão para a cadeia. É a promessa do governo de Formosa, que garante que colocará atrás das grades os responsáveis pelas construções dos mais de 1.200 prédios que desabaram no país em consequência de um devastador terremoto (7,6 graus na escala Richter) que abalou a ilha na terça-feira 21. O pior tremor dos últimos 100 anos em Formosa deixou mais de dois mil mortos, quatro mil feridos e cerca de 100 mil desabrigados. A Bolsa de Valores ficou fechada por dois dias e a fabricação dos chips para a exportação está ameaçada. Na sexta-feira 24, um arquiteto e um empreiteiro chineses foram presos, acusados de serem os culpados pela morte de 20 pessoas num desabamento de um prédio de 12 andares em Taipei, a capital. Três outros arquitetos já tinham prestado depoimentos e, segundo fontes do governo, a previsão é de se chegar a mil prisões, caso seja comprovada a negligência por parte dos construtores.

Formosa, um arquipélago com 21 milhões de habitantes espalhados por 36 mil quilômetros quadrados (pouco maior que o Estado de Alagoas), está sujeita a tremores constantes porque se situa na placa tectônica filipina. Por isso, o país tem leis rígidas de prevenção contra terremotos que parecem não terem sido respeitadas, principalmente nas construções recentes de Nantou e Taichung, a 150 quilômetros de Taipei, onde os estragos foram os mais avassaladores. “Onde deveria haver cimento, encontramos latas de azeite de oliva e plástico”, testemunhou Chouwu-hong, um voluntário de uma equipe de resgate. Segundo o professor britânico David Petley, da Universidade de Portsmouth na Inglaterra, “muitas das construções que foram levantadas em Formosa na última década são ilegais porque houve um desenvolvimento relâmpago do país. São prédios construídos em áreas impróprias”. Petley trabalha desde 1991 na ilha em projetos de redução de riscos em casos de tremores.

Apesar disso, os sismólogos afirmam que os desastres teriam sido muito piores se não fossem as leis de segurança. Abalada por um terremoto de proporções similares (7,4 graus na escala Richter), a Turquia teve mais de 15 mil pessoas mortas em agosto passado justamente por não estar tão bem preparada (65% das construções turcas são ilegais). Em Formosa, exige-se, por exemplo, o reforço das colunas de cimento e edificações construídas com flexibilidade suficiente para suportar fortes abalos sísmicos. Teoricamente, a tecnologia de prevenção a terremotos utilizada em paí-ses como Formosa e Japão seria sufi-cien-te para dissipar a energia terrestre. Mas o terremoto de Kobe, no Japão, em 1995, com 4.500 vítimas fatais, enfraqueceu essa teoria. Os japoneses gastam anualmente US$ 100 milhões na previsão de terremotos e não conseguem prever sua intensidade. Especialistas afirmam que já esperavam alguns abalos sísmicos em Formosa neste mês. “Terremotos não são, em nenhuma hipótese, evitados. Construções resistentes apenas reduzem os possíveis danos na ocasião do terremoto”, disse a ISTOÉ o professor Lucas Vieira de Barros, diretor do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília.

Para os trabalhos de resgate, Formosa contou com a ajuda de 15 países. Até a China – que considera Formosa uma província rebelde – prontificou-se a mandar socorro. Tragédias desse porte sempre comovem o mundo e o menino que foi salvo na sexta-feira 24, depois de 87 horas entre os escombros, fez os voluntários exultarem de alegria. As operações foram dificultadas pelos tremores secundários que levaram ao chão outras construções.

Ao contrário do que possa parecer, os abalos sísmicos recentes – Colômbia, Grécia, Turquia e agora Formosa – não têm relação entre si. Segundo os especialistas, não passou de coincidência. E o que os torna particularmente dramáticos, com elevado número de mortos, é o fato de terem acontecido em áreas de alta densidade demográfica.