Ainda não foi desta vez que a Rede Cultura vai produzir a Ilha rá-tim-bum, esperada sequência do Castelo rá-tim-bum, infantil em reprise desde meados de 1995. Sem caixa para a empreitada, a mais importante emissora pública do País aposta nos enlatados renovando sua programação. Quer repetir com a produção inglesa Toots tv e a australiana O manifesto de Wayne o mesmo sucesso de programas importados como O mundo de Beakman e Os anos incríveis, ambos lançados no início da década. Toots tv, o primeiro programa infantil bilíngue exibido no Brasil, conta as aventuras do trio de bonecos Tico, Tom e Tina, que ajudam as crianças de três a seis anos a aprender espanhol. Tina, a ruivinha determinada nas suas descobertas infantis, só fala espanhol. Todas as suas frases são traduzidas para o português pelos companheiros.

O manifesto de Wayne é para os mais crescidinhos. Vem recheado de humor delirante, com o jovem Wayne – filho de um encanador que coleciona privadas raras – vivendo num mundo mágico criado pela sua imaginação. Embora sejam bons achados, a Cultura não é a mesma sem suas badaladas produções brasileiras. Mesmo sem elas, contudo, o momento é otimista. Desde maio passado, a emissora abriu espaço para comerciais. Há uma série de restrições éticas, mas algumas empresas têm se adaptado ao formato. Apesar das limitações, a rede pública aumentou sua debilitada receita. Em 1997 arrecadou com receita própria R$ 10 milhões, dos quais R$ 6 milhões vieram dos serviços prestados usando a sua infra-estrutura. Deve encerrar o ano com um faturamento de R$ 15 milhões. Apenas R$ 2 milhões vêm dos tais serviços.

Diante dos novos números, a Cultura já encabeça a Rede Pública de Televisão (RPTV), associação que aglomera 26 emissoras públicas do País, cobrindo 93% do território brasileiro. Para tornar-se mais “nacional”, a Cultura também se reforçou. O jornalista Paulo Henrique Amorim passa a comandar o Conversa afiada, programa de economia em que, como ele próprio determina, “é proibido cha-tear o espectador”. Ao lado de convidados diários, o lépido Amorim vai explicar em minúcias como os grandes eventos econômicos influem no cotidiano e no bolso das pessoas. “A primeira manifestação de cidadania ocorre quando nos tornamos consumidores”, diz ele, citando o pensador alemão radicado nos Estados Unidos Albert Hirschman. O perigo é que Hirschman foi professor e ainda é referência para Fernando Henrique Cardoso.


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