Quando John Lennon se fartou dos Beatles, passou a frequentar galerias de arte. O ídolo pop não estava atrás de pinturas ou objetos comuns. Queria a arte insti-gante, que acabou sendo apresentada a ele por uma japonesa baixinha, chamada Yoko Ono, que em uma de suas exposições convidava os espectadores a martelar pregos numa de suas obras. Desde que pagassem pelo ato. Lennon se dispôs a martelar um prego imaginário, portanto pagaria com dinheiro imaginário. Foi amor à primeira vista. Mas Yoko não era uma apenas uma artista amalucada, com trabalhos idem, como os beatlemaníacos ciumentos alardearam. Ela sempre quis mais. Tanto que se integrou ao nova-iorquino grupo Fluxus, que, a exemplo de outros espalhados pelo mundo, pretendia explodir as estruturas da arte. Todos fizeram história no pós-guerra e dentro da anarquia proposta naqueles transformadores anos 60, contada agora no livro Assalto à cultura – utopia, subversão, guerrilha na arte do século XX (Conrad Livros, 198 págs., R$ 23), do artista e escritor inglês Stewart Home, que faz um inventário destes grupelhos, a maioria inspirada na iconoclastia de movimentos como o dadaísmo e o surrealismo.

Eles aterrorizavam galerias, museus, artistas, críticos e o público em geral com as propostas mais desconcertantes e, não raro, divertidas de arte. O que dizer do Orange Alternative, que ficou famoso por ter lotado uma das principais lojas de departamentos de Amsterdã com papais noéis distribuindo brinquedos que tiveram de ser arrancados à força pelos policiais chamados pelos donos, com os gritos histéricos das crianças ao fundo? Ou do pirado tENTATIVELY (sic) cujo maior feito foi ganhar uma passagem gratuita de ônibus ao surgir de quatro ao lado de uma pessoa cega, alegando ser um cão guia? Home, 37 anos, que já foi punk e hoje se apresenta como neoísta – “uma visão heróica do futuro, reduzida à novidade do novo” –, escreveu Assalto à cultura no final dos anos 80, com toda a parcialidade possível.

Para quem, no entanto, se interessar pelo assunto numa visão mais isenta, também está sendo lançado o livro Poéticas do processo – arte conceitual no museu (Iluminuras, 200 págs., R$ 35), de Cristina Freire, que aborda a questão da importância, da aceitação e da influência da arte. Mas como resistir ao inventário de Home, que não se esqueceu nem mesmo da Arte Auto-destrutiva, do alemão Gustav Metzer que, entre outras façanhas, fazia pinturas que duravam 15 segundos borrifando ácido colorido em telas de náilon? Não sem razão foi o único movimento artístico composto de uma só pessoa, mesmo depois de Metzer ter lançado quatro manifestos sem conseguir nenhuma adesão. Até para os pirados, a piração tem limites.