E analisar projetos, muitos projetos. Esse é o fardo que o banqueiro Aloysio de Andrade Faria carrega hoje. Fardo, não. Depois dos US$ 2,5 bilhões que recebeu dos holandeses do ABN Amro Bank na venda do banco Real, em novembro do ano passado, a vida de Faria, 79 anos, anda mais leve do que nunca. Ele deixou a cargo de seus genros Luiz Henrique de Vasconcelos e Carlos Nascimento a administração de parte dos negócios e comparece apenas três vezes por semana à sede do grupo Alfa, sua nova holding, localizada num prédio moderníssimo próximo à avenida Paulista, em São Paulo. Apontado pela revista americana Forbes como o segundo brasileiro mais rico, perdendo apenas para Antônio Ermírio de Moraes, o banqueiro passa boa parte do tempo na Inglaterra ou nos seus haras, onde cria 200 cavalos manga-larga marchador e árabe. Reserva suas energias para a avaliação dos novos rumos do conglomerado. “O doutor Aloysio não poupa comentários críticos quando necessários”, declara um executivo. É nesse espírito que Faria vai agora entrar em novo ramo de atividades. Investirá R$ 22 milhões no Transamérica Expo Center, a ser inaugurado no final de 2000. No pavilhão de 20 mil metros quadrados, localizado em São Paulo, no bairro de Santo Amaro, planeja lucrar com a demanda reprimida de espaços para exposições.

O conservadorismo é marca registrada de Faria. Logo na entrada da sede do Alfa, fez questão de “importar” do Real o slogan: “Ordem e progresso. Ordem sem progresso é inútil. Progresso sem ordem é falso.” Tudo gravado numa enorme placa de metal para impressionar funcionários e clientes. Sua conhecida cautela tem dado certo nos negócios, que vão muito bem, obrigado. Em menos de um ano, os fundos de investimentos do Alfa cresceram 40% e foram abertas cinco agências do banco. Também uma seguradora entrou em operação. Só que não há a menor intenção de se criar um novo banco de varejo. “Trabalhamos com grandes empresas e investidores de peso. Se fosse para criar uma instituição do porte do Real, o doutor Faria teria de gastar os US$ 2,5 bilhões que ganhou do Amro Bank”, explica Fernando de Moura, diretor-geral do Alfa. A financeira e a operadora de leasing também vão de vento em popa. Seus créditos saltaram de R$ 594 milhões para R$ 878 milhões em oito meses. Um dos alvos são as agências de turismo. “Financiamos viagens, mas sempre pedimos como garantia as faturas dessas empresas para evitar a inadimplência, que é de cerca de 0,5%”, ressalta Moura. O braço financeiro das atividades de Faria tem um patrimônio líquido de R$ 715 milhões e fechou o primeiro semestre com lucro de R$ 44 milhões. É o ramo de negócios que mais rende dinheiro. E deve render muito mais. O próximo alvo será o financiamento em grandes obras de infra-estrutura, como plataformas de exploração de petróleo, usinas elétricas e sistemas de telecomunicações. “Temos certeza de que as empresas estrangeiras também vão buscar financiamentos para seus projetos aqui. Isso porque as matrizes não en-viarão dinheiro diante do risco Brasil.”

Mais hotéis – O novo Transamérica Expo Center é prova que Faria permanece atento também aos seus empreendimentos não-financeiros, que devem gerar em 1999 uma receita de R$ 720 milhões e lucro de mais de R$ 40 milhões. O pavilhão ocupará um terreno atrás do Hotel Transamérica de São Paulo e terá capacidade para até 800 estandes. Será o mais novo centro de exposições da cidade, que já conta com cinco de grande e médio portes. Visa fechar um raio de atividades do complexo Transamérica. “Com ele, passaremos a oferecer hospedagem, lazer e centro de negócios em uma mesma área”, explica o diretor Carlos Nascimento. O lazer fica por conta do Teatro Alfa, que está nos fundos da hotel e é um dos melhores de São Paulo. O novo centro de exposições não pretende concorrer com os 60 mil metros quadrados do Anhembi. “Nosso alvo são eventos de médio porte. Não vamos trabalhar com grandes públicos.” O Futebol S.A, feira que o presidente de honra da Fifa, João Havelange, inaugura em 2000, é candidato a estrear o espaço. Faria também planeja bater o martelo em outro projeto ligado aos hotéis Transamérica. Nos próximos meses decide se libera R$ 20 milhões na construção de cinco prédios residenciais, com um total de 120 apartamentos, na Ilha de Comandatuba, na Bahia. Eles poderão ser atendidos pela administração do Transamérica. Outros dois hotéis estão em estudo. Dinheiro é o que não falta.