“Se você for pediatra e seu paciente não te procurar entre o início de agosto e o final de setembro, saiba que ele mudou de médico.” A frase, proferida em tom de brincadeira pelo pediatra Luiz Bellizia, tem explicação: no início da primavera aumenta o número de infecções por vírus. Nessa época, devido à temperatura fria e à baixa umidade do ar, os microorganismos encontram as condições necessárias para se multiplicar e atacam com força total. “Como o calor não é forte, as pessoas ficam mais em ambientes fechados, o que facilita a transmissão”, completa Bellizia.

Por ter seu sistema imunológico pouco desenvolvido, as crianças são as principais vítimas e estão sujeitas a contrair doenças como as famosas viroses simples e passageiras até catapora, meningite e infecções respiratórias. A catapora, por exemplo é uma doença encarada como benigna, pois raramente traz complicações. No entanto, ela ataca anualmente cerca de 60 milhões de pessoas em todo o mundo. “Apenas uma criança em 500 desenvolve complicações mais sérias”, diz a pediatra Lúcia Bricks, do Instituto da Criança da Universidade de São Paulo. “Existe vacina contra esse tipo de doença e ela funciona em 95% dos casos, mas não é disponível na rede pública e custa em torno de R$ 70”, explica a pediatra.

O preço da vacina é alto, mas, sem dúvida, a pedagoga Dilcéia Augusto, 40 anos, teria pago por ela, se soubesse as consequências que uma simples catapora teria na vida de sua filha Cyndel, quatro anos. “Houve um surto de catapora na creche, mas eu não fui avisada. No dia 1º de agosto, minha filha apareceu com a doença. Cinco dias depois, seus olhos que eram azuis ficaram pretos porque as pupilas dilataram. Hoje Cyndel está com a visão comprometida: usa um óculos de nove graus”, revolta-se Dilcéia. Ela teve de recorrer a seis pediatras diferentes para chegar ao diagnóstico correto. A menina desenvolveu uma midríase paralítica, sequela que compromete os nervos oculares e prejudica a visão, por consequência da ação do vírus varicela-zoster, o responsável pela catapora. A mãe não foi avisada pela escola de que havia um surto de catapora. Do contrário, poderia escolher mandar ou não a criança às aulas e optar pela vacina. “ Talvez não haja uma lei que obrigue a entidade a notificar os pais em caso de surto, mas esconder isso deles é, no mínimo, antiético”, diz o médico Evandro Baldacci, do grupo de Saúde da Secretaria da Família e do Bem-estar Social do Município de São Paulo. Segundo Lúcia Bricks, os pais podem recorrer à vacina mesmo na última hora. “Se a vacina for dada até três dias após o contágio, mesmo que ela não evite a catapora, diminuirá os sintomas”, explica a pediatra.

Meningite – Se a catapora é vista como benigna, entretanto, o mesmo não acontece com a meningite. Basta ouvir essa palavra para se levar um tremendo susto. Mas nem todas são perigosas. “As meningites virais ocorrem por 50 tipos diferentes de vírus. São simples e não requerem tratamento”, explica o pediatra José Tadeu Stocler. “Já as meningites bacterianas são mais preocupantes, mas algumas podem ser prevenidas com vacinas e devem ser tratadas com antibióticos”, completa.

Fora a vacina, existem outras formas de prevenir as viroses (veja o quadro, o que pode também evitar infecções bacterianas. Explica-se: os vírus diminuem as defesas do organismo e facilitam a entrada para as bactérias. “É por esse motivo que uma simples gripe pode levar a uma otite (infecção do ouvido) ou uma pneumonia”, explica Luiz Bellizia. Giovanna Yoneda, três anos, foi mais uma criança que não passou impune a este inverno. Há dez dias contraiu um vírus que provoca infecções respiratórias. Durante uma semana, ela teve dor no estômago, febre e coriza. Isso porque o tipo de vírus que a acometeu ataca não só o sistema respiratório mas também o aparelho digestivo. “Depois das cólicas veio a febre que controlei apenas com analgésicos”, conta a administradora Viviane Yoneda, 36 anos, mãe de Giovanna. “Graças a Deus não foi nada. Os sintomas sumiram e ela está bem”, comemora.

Fuja do Mal – Como prevenir as viroses

Exija da escola de seu filho que ela comunique rapidamente quando houver surtos de infecções;

Evite expor a criança a ambientes fechados e com pouca circulação de ar;

Só leve seu filho a lugares superpovoados como shoppings e supermercados quando for extremamente necessário;

Mantenha sempre os cômodos da casa limpos e uma higiene adequada;

Agasalhe as crianças de acordo com a temperatura do ambiente (casacos a menos faciliam a gripe, mas a mais também podem fazer mal);

Mantenha a carteira de vacinação de seu filho sempre em dia.