O deputado Augusto Farias (PPB-AL) ainda acredita que seu irmão, Paulo César Farias, o PC, foi vítima de um crime passional e assegura ter recebido uma proposta indecorosa dos delegados que investigam o caso. “O doutor Antônio Carlos Lessa disse que se eu concordasse em deixar a culpa cair nos seguranças o inquérito seria encerrado”, acusa. Segundo o parlamentar, nesses últimos três anos “nada surgiu que comprometesse a versão do homicídio seguido de suicídio.” Augusto dá às perícias e às investigações que comprovaram a ocorrência de um duplo homicídio um tratamento de “obras de ficção.” Quanto às testemunhas que apontam indícios para a motivação do crime, o deputado procura desqualificar. “Não podemos dar ouvidos a uma macumbeira que cria uma fantasia para vender um livro”, diz com relação à psicóloga e vidente Amira Lépore, que passou 72 horas ouvindo as confidências de PC dois meses antes do crime. “Se levantarmos os antecedentes da Élia, veremos que ela tem várias passagens na polícia por uso de drogas”, afirma sobre a cunhada de PC que o acusou de travar uma guerra com o irmão e de roubar o dinheiro dos sobrinhos. As revelações de Amira e de Élia, antecipadas por -ISTOÉ nas duas últimas semanas, segundo o secretário de Segurança Pública de Alagoas, Edmilson Miranda, são importantíssimas para o esclarecimento da morte de PC. “Decidimos adiar a entrega do inquérito até que esses depoimentos sejam oficializados”, diz o secretário. Na manhã da quinta-feira 23, Augusto Farias concedeu a seguinte entrevista:

ISTOÉA polícia de Alagoas entende que há indícios de seu envolvimento nas mortes de PC e de Suzana Marcolino. Como o sr. se posiciona?
Augusto Farias – Eu não posso responder a uma acusação que a pessoa diz: o deputado
Augusto Farias é suspeito, porém, não tenho provas. Não vi nenhuma testemunha que desse um indício concreto contra mim. Nenhuma prova surgiu para descaracterizar um homicídio seguido de suicídio.

ISTOÉOs delegados afirmam provar cientificamente que os tiros que mataram PC e Suzana eram audíveis. Pediram a prisão dos seguranças e obtiveram autorização judicial para isso.
Augusto – Sua avaliação é perfeita, mas você esquece que o Tribunal de Justiça cassou essa decisão.

ISTOÉMas houve um envolvimento seu para tirar da cadeia as pessoas acusadas de matar seu irmão.
Augusto – Não tem envolvimento nenhum. Para prender é justiça, para liberar é envolvimento político.

ISTOÉO sr. se mexeu para libertar os seguranças. Estou enganado?
Augusto – Eu não me mexi. Eu encaminhei para o Tribunal de Justiça que considerou a prisão ilegal e arbitrária.

ISTOÉO sr. não foi à casa do presidente do tribunal?
Augusto – Não. Estive com ele no tribunal numa noite de sexta-feira.

ISTOÉPor que tanto empenho em favor dos seguranças?
Augusto – Porque eles são inocentes. Era muito prático para mim entregá-los. Se tivesse entregue, eu estaria fora disso. Foi isso que propuseram.

ISTOÉQuem propôs o quê?
Augusto – No dia do meu depoimento, o delegado Lessa disse: aceite que os seguranças mataram que fechamos o inquérito. Eu falei não. Até que os delegados me provem o contrário os seguranças são inocentes e boto a cara nisso até o fim.

ISTOÉA psicóloga e vidente Amira Lépore diz que o relacionamento entre vocês não estava nada bom.
Augusto – Essa mulher nunca me viu.

ISTOÉMas ela não esteve por 72 horas convivendo com seu irmão, na casa dele?
Augusto – Meu irmão gostava desse negócio de espiritismo. Então, é provável que ela tenha mesmo estado com ele.

ISTOÉEla garante que o seu relacionamento com Paulo César não estava bom por causa do comando dos negócios.
Augusto – Isso não é verdade. O meu irmão é meu padrinho e o filho dele é meu afilhado. A Elma (mulher de PC) não se dava bem comigo por causa de ciúmes da relação que eu tinha com o PC.

ISTOÉA dona Élia Bezerra, cunhada de PC, também diz que o relacionamento entre vocês não estava bom e que a Elma não se dava com o sr.
Augusto – O que ela diz em relação a Elma é verdade. O sonho da Elma é que a Eônia (irmã mais velha) fosse a tutora dos filhos dela. É verdade. Mas do mesmo jeito o sonho do meu irmão é que eu fosse o tutor dos meninos.

ISTOÉDona Élia garante que o sr. promove jogos na mansão de PC. Isso também é verdade?
Augusto – Paulo César ainda era vivo e uma vez por mês jogávamos um baralhinho com alguns amigos. E eu, de vez em quando, junto esses amigos e faço esse jogo. É uma homenagem a meu irmão. Não sou um viciado.

ISTOÉEsse joguinho o sr. promove na mansão, com a presença do Paulinho?
Augusto – Sim. O Paulinho até pede. Mas é apenas um jogo em homenagem à memória do meu irmão.

ISTOÉE se aposta muito dinheiro?
Augusto – (risos). A Élia fala muita verdade. Mas o processo de tutela foi feito na Justiça e a Eônia é testemunha. Se as crianças quiserem trocar a tutela por qualquer outro tio, não tenho nada contra. Só com relação a Élia. Na polícia ela tem uma folha com várias passagens como usuária de drogas e o ex-marido foi preso como traficante.

ISTOÉEla diz que o Paulinho e a Ingrid têm reclamado a falta de dinheiro e que o sr. havia dito que PC não deixou muito e que estava acabando.
Augusto – A função do tutor e do tio que ama os sobrinhos é a de transmitir uma experiência de vida. O Paulinho, por exemplo, está no quarto e liga para o porteiro do telefone normal para o celular. O que faço é dizer que ele precisa controlar a conta, desligar as luzes e o ar. Não estão nadando em dinheiro como todo mundo diz.

ISTOÉEntão o dinheiro está mesmo acabando?
Augusto – Enquanto vida tiver, esses meninos terão futuro garantido. Mas entre isso e dizer que têm trilhões de dólares há uma diferença. Eles aceitaram sair daquela casa grande, que tem uma despesa enorme, e vão para um apartamento de frente para o mar. Isso é orientação. Essa história de faltar dinheiro para comprar sabão é mentira. Imagine que na casa de PC vai faltar sabão.

ISTOÉTanto Élia como Amira dizem que quando PC fugiu do País o sr. ficou no comando dos negócios dele.
Augusto – Ele fez uma procuração.

ISTOÉElas dizem também que após o retorno do Paulo César, já preso, o sr. estaria se recusando a abrir mão do controle dos negócios.
Augusto – Isso não existe. O Paulo era o dono dos negócios. Paulo era o amor que eu tinha na vida. Eu amava meu irmão. O que elas dizem não tem validade nenhuma.

ISTOÉE o dinheiro no Exterior?
Augusto – Também não existe. Se encontrarem alguma coisa, está tudo doado para a LBV.

ISTOÉHá propriedades de PC em nome de outras pessoas? Amira assegura que Paulo queria vender uma propriedade no Uruguai e que a pessoa se recusava a atender seu pedido.
Augusto – Dizem que há uma mansão em Punta del Este em nome do Jorge La Salvia e que a casa seria do Paulo. Mas, pelo que sei aquela casa sempre foi mesmo do Jorge. Só o velhaco do José Carlos Martinez é que deve US$ 3 milhões para as crianças e não paga, mas isso está na Justiça, sendo executado em Alagoas.

Novos desafios

Na tarde da quinta-feira 23, Élia Bezerra, cunhada de PC, lançou um desafio ao deputado Augusto Farias. “Ele anda dizendo que tenho passagens na polícia por consumo de drogas. Quero que ele prove isso, que mostre minha ficha policial”, afirmou. Élia admite, porém, que em abril de 1996 um ex-namorado seu foi preso por porte de entorpecentes. “Meu ex-namorado teve um envolvimento com drogas. Eu não.” A psicóloga e vidente Amira Lépore, autora de <i>72 horas com P.C. Farias</i> também respondeu ao deputado. “Primeiro ele diz que não me conhece, depois afirma que estou inventando histórias. Como ele pode dizer isso se nem sequer leu meu livro?”, pergunta. Na polícia, a denúncia feita por Augusto no sentido de que o delegado Antônio Carlos Lessa teria proposto encerrar o inquérito caso ele concordasse em não questionar a culpa dos seguranças, foi vista com desdém. “Isso é mentira. O depoimento dele foi acompanhado pelo promotor”, disse o secretário de Segurança, Edmilson Miranda. “Essa é a reação de quem está em desespero.”