Ao se tornar candidata a presidente da República, a ex-senadora Marina Silva (PSB) prometeu respeitar as diretrizes e as propostas do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, morto em acidente aéreo no dia 13 de agosto, quando fazia campanha para o Palácio do Planalto. Nos primeiros dias depois da tragédia, Campos se tornou presença obrigatória nos discursos da presidenciá-vel. A julgar pelo que se via e se ouvia, mesmo morto, o ex-governador seria presença constante em toda a corrida eleitoral. Passado pouco mais de um mês da tragédia, Marina Silva dá repetidas demonstrações de afastamento da figura do antecessor. O discurso partidário se adaptou ao seu estilo e os auxiliares de campanha ligados a Campos foram substituídos por pessoas da confiança da candidata. A troca de comando e a reorientação têm gerado problemas, como a crise envolvendo os sindicalistas ligados ao partido. Na semana passada, eles criticaram as propostas de Marina para a área trabalhista. Entre elas, os ajustes na CLT. Para serenar os ânimos e evitar defecções na campanha, os bombeiros do partido tiveram de ser acionados.

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À FEIÇÃO DE MARINA
Campanha do PSB ganha cada vez mais a cara de Marina, enquanto
os desejos de Eduardo Campos são esquecidos

Embora nomes antigos do PSB tenham permanecido na coordenação da campanha, são os mais próximos à candidata que dão as cartas. O tesoureiro Márcio França, por exemplo, era ligado a Eduardo Campos e tem grande influência no partido. Na prática, entretanto, a arrecadação passou para as mãos do economista Álvaro de Souza, que não foi nomeado publicamente para a função, mas coordena os eventos financeiros e a arrecadação em nome de Marina.

O racha entre as equipes que integram a campanha da presidenciável ganhou outro capítulo na semana passada. O PSB e a própria candidata desautorizaram declarações de Alexandre Rands, coordenador da área econômica do programa de Eduardo Campos e primo da viúva, Renata. Ele é também irmão do ex-deputado Maurício Rands, outro importante colaborador de Campos, e elaborou grande parte das propostas do programa inicial do PSB. Com Marina na disputa, Alexandre ainda era ouvido, mas na semana passada mudou o clima na campanha. Alexandre Rands criticou o economista Celso Furtado, um dos ícones do pensamento de esquerda no Brasil, e ainda defendeu a revisão das metas de inflação. O PSB emitiu nota discordando das críticas a Furtado e a própria Marina disse que seus auxiliares não falam por ela sobre economia. Desde então, instalou-se na equipe um silêncio tenso.

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Apesar de manter o cuidado de falar carinhosamente do ex-aliado, Marina marca distância de Campos também na forma de conduzir as propostas. O antecessor prometeu apresentar detalhes da sua proposta de reforma tributária no primeiro turno. Mas, segundo ela, a intenção de antecipar a discussão não foi combinada. Pelo visto, Marina desconhece ou prefere não dar trela para muitas das promessas de Eduardo Campos – como a de colocar figuras do PMDB na oposição caso vença a eleição, contrariada na última semana pelo seu vice, Beto Albuquerque – e a campanha ganha cada vez mais a sua cara. 

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