20/06/2001 - 10:00
Terminou na terça-feira 12, a mais longa rebelião de presos na Penitenciária Central do Paraná, em Piraquara, Curitiba. Foram seis dias de motim mais uma vez liderado por integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC), a maior organização criminosa de São Paulo que, até fevereiro, imaginava-se que agia apenas dentro das cadeias do Estado. O movimento encerrou depois que o Ministro da Justiça, José Gregori, garantiu aos 23 presos transferência para outros Estados, entre eles São Paulo. Durante a rebelião, morreram um agente penitenciário, Luciano Amâncio, e três detentos. O primeiro a deixar Piraquara foi José Márcio Felício, o Geléia, apontado pela polícia, juntamente com Gilmar Angelo dos Santos, o Mamá, como o atual chefe da facção criminosa. Eles teriam assumido a liderança depois que os cabeças do PCC, que comandaram em fevereiro a megarrebelião em 29 presídios de São Paulo, foram isolados e distribuídos em diversos presídios do País. “Com a vinda do Geleião e do Mamá e mais 11 membros da organização para São Paulo, o PCC começa a ganhar força outra vez”, garante um policial. Mas apesar da rearticulação, o PCC sofreu um duro golpe. Há duas semanas, a polícia desativou um sofisticado sistema de comunicação formado por 12 centrais telefônicas que funcionavam em cinco cidades paulistas e permitia aos integrantes do PCC se comunicar dentro e fora dos presídios.
Segundo fonte ouvida por ISTOÉ, a rebelião de Piraquara foi um protesto contra o isolamento de Geléia e Mamá. Eles ficaram incomunicáveis no Paraná. Os dois líderes foram os mais atingidos pela desativação das centrais telefônicas. Era por intermédio dessas centrais, operadas por mulheres de bandidos, que os membros do PCC comandavam de dentro de suas celas seus negócios do lado de fora. Cada chefão seria dono de uma central. O esquema funcionava a partir de um celular pré-pago que entrava irregularmente nas cadeias. O preso ligava a cobrar para a central, que automaticamente transferia a ligação. O sistema permitia, inclusive, que os bandidos falassem ao mesmo tempo através do sistema de teleconferência.
As investigações duraram dois meses e resultaram em mais de 400 horas de conversas gravadas, às quais ISTOÉ teve acesso. Pelos diálogos, soube-se que é intensa a atividade criminosa mantida pelo PCC fora dos presídios. Por intermédio das centrais, os criminosos comandavam e planejavam assaltos, sequestros, resgates de presos, tráfico de drogas, contrabando de armas e assassinatos. “Eles estão no meio do caminho entre uma organização criminosa e um grupo terrorista”, afirma Márcio Sérgio Christino, um dos promotores que, na quarta-feira 13, ofereceram denúncia por formação de quadrilha contra Geléia, Mamá e as telefonistas das centrais presas há 15 dias. “Dentro, eles extorquem e matam. Fora, têm grande poder de fogo”, diz. Nas fitas existem menções de que o traficante carioca Fernandinho Beira-Mar teria colaborado com o bando.
Teleconferência – Uma das operadoras presas disse que existem 30 dessas centrais telefônicas ainda em atividade. E citou algumas das cidades em que elas estariam em operação: Taubaté, Assis, Ribeirão Preto, Mirandópolis, Baixada Santista e outras na capital paulista. Ela também confirmou a ascendência de Geléia sobre os demais membros do PCC. “É ele quem dá a última palavra. Foi quem comandou de dentro da cadeia o sequestro da filha do diretor do presídio de segurança máxima de Taubaté”, disse. Essas revelações também podem ser ouvidas nas conversas entre os bandidos. Na descoberta das centrais, a polícia conseguiu interceptar o sequestro de um funcionário de alto escalão de uma transportadora de dinheiro, que renderia ao bando cerca de R$ 5 milhões. Os bandidos atuam como se fossem homens de negócios. Encomendam armas, drogas e celulares. “Se os sinais de celular não forem bloqueados nas cadeias, vamos ficar eternamente estourando essas centrais. Eles as recompõem facilmente em dez dias”, diz Christino. O Ministério Público calcula que o PCC seja responsável por 20% dos crimes em São Paulo.