A nomeação do novo presidente da Eletronuclear, o engenheiro Flávio Decat de Moura, que teria sido indicado pelo presidente da Agência Nacional de Petróleo (ANP), David Zylbersztajn, é um sinal de que as centrais nucleares brasileiras estão na mira da privatização. Outro indicativo seria a disposição do governo federal de não concluir a usina de Angra III, no Estado do Rio, obra necessária devido ao colapso energético vivido no País. Segundo Alerta científico, publicação especializada em questões de energia e meio ambiente, Decat de Moura, um nome desconhecido no setor nuclear brasileiro, esteve envolvido na privatização de empresas de energia, tanto pelo lado governamental quanto pelo segmento privado.

Além de ter sido o gerente de contrato da Eletrobrás com a Coopers & Lybrand, empresa britânica responsável pela modelagem da privatização e desregulamentação do setor elétrico brasileiro, Decat foi diretor da Eletrosul. Ele também foi vice-presidente da Enersul, distribuidora de Mato Grosso do Sul vendida ao grupo português EDP. Decat de Moura participou dos leilões de venda da Gerasul, sucessora da Eletrosul, da Cesp, e da aquisição de 30% das ações da Celesc, distribuidora de Santa Catarina. Neste caso, o engenheiro foi o principal executivo no Brasil da Sithe Energies, empresa controlada pela Exelon, um dos maiores conglomerados de energia elétrica dos EUA e principal operadora de usinas nucleares daquele país.

Segundo especialistas da área, já se discute abertamente a privatização das usinas nucleares no País. No dia 20 maio, em entrevista à newsletter Energia e mercados, o ex-presidente da Eletronuclear Ronaldo Fabrício afirmou que “o monopólio da União se refere só ao combustível”. E acrescentou que, em países como Alemanha e Japão, “a geração nuclear é realizada por empresas privadas”. No apagar das luzes do governo Fernando Henrique Cardoso, Zylbersztajn, padrinho de Decat de Moura, vem se firmando como homem forte do setor energético. Ele demonstrou, em várias ocasiões, uma postura desfavorável às estatais brasileiras do ramo energético.

As mais recentes foram as que obrigaram a Petrobras a partilhar o gasoduto Brasil–Bolívia com sua concorrente, a British Gas. Além disso, é a Petrobras que deverá absorver as diferenças de custo do gás importado decorrentes de variações cambiais. Essa última medida foi tomada, asseguram os analistas, para satisfazer as exigências da AES e da Enron, multinacionais americanas envolvidas no escândalo energético na Califórnia, Estado onde empresas estão sendo acusadas de operar no mercado “spot”, de manipulação ilícita dos preços da eletricidade e do gás natural.”