Fino, culto, charmoso e com uma voz macia, sem exageros, que o diferenciava completamente de seus contemporâneos, o carioca Mario Reis muitas vezes competiu com os maiores nomes do rádio na virada dos anos 30. Alçado ao estrelato defendendo músicas assinadas, em sua maioria por Sinhô, Mario da Silveira Meirelles Reis, rapidamente se tornou um bon vivant, flanando pelo Rio de Janeiro a bordo de um carro Buick prata, logo trocado por um Plymouth da cor do céu. Apesar da fama, em 1936 o astro praticamente abandonou a carreira, reservando sua voz para raríssimas apresentações. Cantou pela última vez no Golden Room do Copacabana Palace, em 1971, hotel onde morou desde 1957 até sua morte, em outubro de 1981. Mario Reis cultivou uma vida cercada de mistério, pavimentada por lacunas, o que obrigou o jornalista Luís Antônio Giron a trabalhar como um verdadeiro Sherlock Holmes atrás de pistas para escrever Mario Reis – o fino do samba (editora 34, 320 págs., R$ 29). Ao final, a biografia revela-se um alentado estudo sobre o nascimento da moderna indústria fonográfica. Pois, coincidentemente, Mario estreou no disco em 1927, ano em que no Brasil foram realizadas as primeiras gravações eletrônicas, em substituição às mecânicas.

Até então, ele nunca havia se apresentado em público. Sua estréia artística, portanto, foi com o 78 rotações Que vale a nota sem o carinho da mulher e Carinhos de vovô, ambas de J. B. da Silva, o Sinhô, que o acompanhou no violão ao lado de Donga. Com dados minuciosos, reconstituição de cenas – às vezes sob pontos de vista completamente díspares –, Giron desfaz mitos como o que qualifica Mario Reis um cantor de voz pequena. Também torna a leitura saborosa ao descrever o suposto romance com Carmen Miranda, as idas ao morro do Estácio com Chico Alves para comprar sambas e os detalhes de uma vida agitada daquele que é considerado o primeiro cantor moderno.