16/05/2007 - 10:00
Democratas (DEM) acaba de inaugurar a sua nova sede na Ilha Jardins. O aprazível endereço fica no Second Life, o mundo paralelo da internet. O ingresso do DEM, sucessor do Partido da Frente Liberal (PFL), no universo virtual é mais um sinal de renovação, comemora o deputado Rodrigo Maia (RJ), presidente da legenda. Aos 36 anos, ele substituiu o ex-senador Jorge Bornhausen (SC), 70 anos, no comando de um partido que encolheu na oposição e elegeu apenas um único governador nas últimas eleições: José Roberto Arruda, no Distrito Federal. Filho do prefeito do Rio, Cesar Maia, Rodrigo quer mostrar que as mudanças na agremiação política conservadora não são apenas cosméticas. O DEM não defende mais o liberalismo puro, não está mais convencido de que apenas o mercado, sem a intervenção do governo, pode resolver os problemas do País. E não quer mais ser apenas uma linha auxiliar dos planos eleitorais do PSDB, afirma, na seguinte entrevista a ISTOÉ:
Em todo governo populista, a imagem do presidente fica mais preservada. A avaliação que a população tem do governo federal é totalmente diferente da avaliação que tem do presidente Lula. Esse é o processo em governos personalistas. Primeiro, desgasta-se o governo. Em um determinado momento, essas avaliações vão convergir. Cabe à oposição ter capacidade ou não para acelerar esse processo. Nós temos que mostrar que um governo não caminha sozinho. E que o maior responsável pelo sucesso ou pelo fracasso de um governo é o presidente. Essa é a nossa missão.
A oposição trabalha com os instrumentos que tem. Luta contra um governo que bate recordes de gastos com publicidade. E com um presidente que tem essa capacidade de não governar, de sempre realizar eventos, criar programas que não existem. Programas que não têm nada de substancial, como esse PAC, mas que acabam por colocá-lo de uma forma positiva diante da sociedade.
Não acho que haja relação entre as coisas. Está se iniciando um novo ciclo na política brasileira. O primeiro ciclo após a redemocratização se encerrou com a eleição do presidente Lula. O País provou que sua democracia amadurecera com a garantia da alternância de poder pelo voto sem qualquer contestação ou estremecimento. Nós, democratas, achamos que estamos à frente de um novo ciclo, que implicará uma reformulação partidária que adaptará as legendas a um novo tempo. Nós estamos renovando o nosso partido para esse novo ciclo. Acho que o PSDB também entende isso.
Para marcar o início de um novo tempo. O nome Partido da Frente Liberal era provisório. Ou se é um partido, ou uma frente. Como ficamos no poder muitos anos, houve uma acomodação que adiou essa mudança. O que fizemos está longe de ser uma resposta a uma crise.
O PSDB tem dois candidatos fortes à Presidência da República, Aécio Neves e José Serra. É natural, quando você tem dois grandes pólos de poder, que eles gerem alguma disputa interna enquanto operam para se consolidar. Se isso gera uma crise, eles têm que resolver de forma rápida.
Nenhum partido pode trabalhar tendo como principal linha de atuação o plano de fazer aliança com um outro. É inegável que existe uma tentativa de muitos de polarizar a disputa política apenas entre PT e PSDB.
A idéia do liberalismo puro não foi vitoriosa no mundo, é preciso aceitar isso. O Partido Conservador da Inglaterra ficou 12 anos defendendo as teses liberais, ficou 12 anos isolado e ficou 12 anos na oposição. Viu-se obrigado a caminhar para o centro. As demandas da sociedade obrigaram a essa troca de eixo. Nós também precisávamos ampliar o debate com a sociedade. Eu acho o nome Democratas um nome forte. Mas não é a sigla que tem de necessariamente dar nitidez ideológica. Quem tem de dar nitidez ao partido somos nós.
Um país como o que definiu Felipe Gonzáles (ex-primeiro ministro da Espanha): um Estado Garota de Ipanema. Seria um Estado enxuto, sem gordura. Mas organizado para as suas tarefas essenciais. Nós entendemos que, num país pobre como o Brasil, o Estado ainda tem de exercer um papel fundamental. Vamos defender políticas públicas. Entendemos que o Estado tem de prestar um bom serviço de saúde, de educação, de segurança pública. O Estado precisa tratar a questão do meio ambiente como prioridade. Mas isso não tem de significar querer um Estado inchado, paternalista, com 36 ministérios.
A discussão tributária tem que estar conectada à prestação pelo Estado dos serviços que justificariam esses impostos. O Brasil não tem condição de competir no mundo com 40% de carga tributária. Isso é inviável. Nós temos uma arrecadação de país de Primeiro Mundo com uma prestação de serviços de Terceiro Mundo. É óbvio que a carga tributária tem que cair. Mas nós não vamos ficar aqui defendendo só isso. Temos que sair desse debate único da economia. O que é risco Brasil para o cidadão médio brasileiro? É saber se vai conseguir chegar a um hospital e ser atendido. É saber se vai conseguir sair na rua sem correr o risco de uma bala perdida. Interessa muito a alguns reduzir o DEM à bandeira da redução dos impostos para restringir a nossa capacidade de chegar ao poder. O presidente Fernando Henrique Cardoso vive dizendo isso: “O DEM cumpre um papel fundamental: o partido que defende a redução dos impostos.” Ah, ele não vai nos restringir, não.
Se eu estivesse na posição deles, faria o mesmo. Não estou criticando o PSDB por isso. Mas também não posso aceitar. Eu quero chegar ao poder.
Em primeiro lugar, ninguém chegou ao cargo que ocupa apenas por decisão exclusiva do seu avô ou do seu pai. No meu caso específico, o prefeito Cesar Maia, por suas características, nunca seria líder nem presidente de partido. Ele tem características de administrador público e eu, de político parlamentar. Não foi o prefeito Cesar Maia quem construiu o caminho para que eu substituísse Jorge Bornhausen no comando do partido. Não acho que Bornhausen, ao fazer essa transição, estava interessado no meu sobrenome. Estava interessado em encontrar alguém com o perfil para fazer a renovação de que o partido precisava. Os demais nomes que foram mencionados também têm suas virtudes. Antônio Carlos Magalhães e Jorge Bornhausen são representantes desse ciclo da política que acabou. Seus filhos e netos, não. São políticos diferentes. Quanto ao meu pai, ele é de uma geração intermediária entre nós. Nós, agora, temos de mostrar que, de fato, da geração que somos, representamos essa renovação.
Vamos discutir, no mundo virtual, o que nós queremos. Há 700 mil brasileiros no Second Life. Não é um lugar perfeito para debater com os jovens? Inauguramos o nosso blog. Ainda temos poucos acessos, mas estamos lá. Quanto custa mandar, por exemplo, torpedos com mensagens do partido pelo celular? São coisas que estamos pensando.
Esse discurso é do governo. O governo adora achar que nos intimida com essa tática de ameaçar que uma investigação chegará a nós e nos igualará a eles. O que houve foram discussões menores de estratégia. Que nós temos que encerrar. O que existe é uma crise violenta de um setor, tanto na parte pública como na privada. Dos aeroportos às companhias aéreas. Quem respondeu bem a essa crise? Ninguém. As pessoas estão sendo humilhadas, 154 famílias perderam seus parentes. Então, tudo terá de ser necessariamente investigado.
Eu defendo que o Democratas trabalhe em conjunto com o PSDB e com o PPS e saiam com uma estratégia conjunta. Se a Infraero virá antes ou depois na investigação, é questão de menor importância.
É claro que a crise aérea não se restringe apenas aos controladores. Acho que eles cometeram um grande erro ao transferir para todos os cidadãos a conta dos problemas que tinham com o governo e com a Aeronáutica. É inadmissível que, por conta desse problema, cada passageiro tenha embarcado num avião sem saber se não haveria um outro avião do outro lado vindo para bater de frente com o seu. Agora, discutir apenas o problema dos controladores não vai resolver a crise aérea. Eu entendo, por exemplo, que a Infraero tinha de ter alocado melhor o recurso público. Por que preferiu reformar em Congonhas o terminal de passageiros e não fazer a obra de reforma das pistas? Qual era a prioridade para a segurança do passageiro? E há ainda um terceiro eixo de discussão, que é o papel das companhias aéreas.
O que aconteceu com a aviação regional brasileira? A quem interessa ela quase ter acabado? Devemos deixar o mercado brasileiro restrito a duas companhias aéreas? Vou defender no partido a abertura do mercado ao capital estrangeiro.