Nenhuma empresa no mundo consegue mobilizar tantos fãs, entusiastas, detratores, mídia e curiosos para um lançamento de produto quanto a Apple. É quase irresistível. Parece que, a cada encontro promovido pela gigante da tecnologia em Cupertino, na Califórnia, algo mágico e super-revolucionário vai sair de uma caixa muito bem guardada. E não é mera questão de adoração cega. A Ferrari, para ficar em apenas um exemplo, tem clientes tão fanáticos pela marca quanto a Apple, mas nem de longe ganha a mesma publicidade espontânea quando apresenta um novo carro. Por que, então, a cada poucos meses, uma parcela do mundo interrompe tudo que está fazendo para assistir a um show de marketing muito bem orquestrado? Boa parte da resposta reside no fato de que os produtos da Apple não são acessíveis a ponto de se tornarem banais nem caríssimos a ponto de serem absolutamente inalcançáveis. E são, acima de tudo, tecnologia útil, intuitiva e compreensível à maioria das pessoas. Entretanto, o fato é que, desde a morte do fundador e showman da Apple, Steve Jobs, em 2011, parte do encanto se desvaneceu numa nuvem de lançamentos pouco inovadores, ameaçados pelo avanço de uma concorrência feroz, especialmente no segmento de smartphones. Com a apresentação do iPhone 6 e de sua versão gigante, o iPhone 6 Plus, na semana passada, a empresa americana tenta resgatar parcela dessa mágica característica. Para isso, conta também com a chegada de seu primeiro dispositivo vestível, o relógio inteligente Apple Watch (confira quadro). Mas será suficiente?

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CONCEITO
Tim Cook, o substituto de Jobs, tenta mostrar que tem estilo próprio
apostando em telas maiores e em um relógio inteligente

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A mudança mais óbvia do iPhone 6 é o seu tamanho. Contrariando os princípios do próprio Jobs – que nunca foi a favor de celulares com telas muito grandes –, o smartphone cresceu consideravelmente. Na versão “normal” do novo dispositivo, a tela tem 4,7 polegadas, contra as 4 polegadas do modelo anterior, o 5S. Já o iPhone 6 Plus é um verdadeiro gigante com tela de 5,5 polegadas, o que inquestionavelmente o coloca na categoria dos phablets (mistura das palavras inglesas “phone” e “tablet”). Para decepção de muitos, o display não é feito de vidro de safira “inquebrável”, tão especulado nos meses que antecederam o lançamento. Não dá para jogar o telefone de qualquer jeito e esperar que a tela não se estilhace em mil pedacinhos. Ao longo dos anos, a espessura do iPhone também foi gradualmente reduzida: passou de 11,6 mm em 2007 para 6,9 mm em 2014. Nesta nova geração, o desenho do aparelho retomou as bordas arredondadas que marcaram o primeiro iPhone, com linhas contínuas, sem quinas ou interrupções.

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PRIMEIRO
Steve Jobs conseguiu reinventar a Apple e transformá-la em sinônimo
de inovação primeiro com o iPod e, depois, com o iPhone

Segundo a Apple, o novo processador do iPhone 6, batizado de A8, é 50 vezes mais rápido do que o primeiro modelo da marca e até 20% mais eficiente do que o antecessor imediato. A empresa também promete qualidade de imagem para jogos superior até mesmo à de consoles de videogame tradicionais. No entanto, em muitos aspectos, na fria comparação de números, o novo iPhone ainda é inferior a concorrentes diretos, como o Samsung Galaxy S5. A tela é menor, assim como as resoluções do display e da câmera principal (confira quadro). Para compensar, a Apple promete um casamento impecável entre hardware e software. O aparelho vem equipado com o novíssimo sistema operacional iOS8 – o programa que “roda” todas as funcionalidades do aparelho. Além disso, tradicionalmente, o iPhone se sai melhor na fotografia e na filmagem do que a maioria dos celulares equipados com o sistema Android, característica que deve ser mantida. O smartphone da Apple agora conta com um recurso chamado “Focus Pixel”, presente nas câmeras digitais profissionais, que melhora significativamente o foco automático. Ele também permite gravar vídeos ao ritmo de 240 quadros por segundo, o que gera fantásticas imagens em câmera lenta. De acordo com o presidente da Apple sucessor de Steve Jobs, Tim Cook, essas melhorias representam “a maior evolução na história do iPhone”.

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Com o novo produto, a Apple também quer que as pessoas deixem em casa os cartões de débito e crédito e esqueçam as senhas na hora de fazer pagamentos. Ao contrário de seus antecessores, o iPhone 6 conta com o sistema conhecido como NFC, que permite ao smartphone se comunicar com outros dispositivos próximos por ondas de rádio. Por meio dele, a empresa vai implantar o chamado Apple Pay, uma plataforma de pagamentos automática. Basta ao dono do telefone passar o smartphone por um leitor habilitado em qualquer loja e confirmar a operação via impressão digital no próprio celular. Os dados são criptografados e nem mesmo o comerciante tem acesso a eles. Esse tipo de recurso não é exatamente novo. Aparelhos com Android têm NFC há anos, mas nenhum deles conseguiu popularizar os sistemas de pagamento via celular. A impressionante quantidade de parcerias fechadas pela Apple pode ser responsável por dar o empurrão que faltava: vai das principais operadoras de cartões a empresas como Disney, Sephora e Starbucks. Nos Estados Unidos, 220 mil estabelecimentos trabalham com essas transações sem fio. É nesse tipo de força, aliada ao peso da marca ­Apple e aos novos recursos do iPhone, que a empresa aposta para encantar novamente. “Consistência e diferenciação são fatores que tornam uma marca forte, e a inovação foi o que fortaleceu esses critérios em toda a história da Apple”, diz Laura Garcia Miloski, diretora de estratégia da consultoria Interbrand no Brasil. O jogo vai ficar interessante novamente.

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Fotos: Stephen Lam/REUTERS, Paul Sakuma/AP Photo


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