O cirurgião plástico Ivo Pitanguy, famoso no Brasil e no Exterior, viveu recentemente um drama inusitado. No início da noite de 25 de maio, o cirurgião-geral Gabriel Gonzalez, 64 anos, recebeu um telefonema da irmã de Pitanguy, Jaqueline, pedindo que ele fosse rápido à Clínica São Vicente, no Rio de Janeiro, para fazer um atendimento de emergência. Pitanguy corria risco de morrer. Ele havia sido operado de um aneurisma (dilatação de artéria) no abdome uma semana antes, em São Paulo, pelo amigo Adib Jatene, renomado cirurgião cardíaco. Pitanguy estava em casa quando um acesso de tosse provocou o rompimento dos pontos cirúrgicos. Com isso, parte de seu intestino delgado ficou exposto. Antes que a enfermeira o ajudasse, Pitanguy, controlado, deitou-se na cama. Com as mãos, empurrou o órgão de volta para o corpo, utilizando compressas. Dificilmente, alguém imaginaria cena tão chocante protagonizada pelo mago da beleza, que foi operado às pressas. “Lavei as vísceras por uma hora. Depois foram mais de duas horas para suturar o abdome”, explica Gonzalez, outro amigo do cirurgião plástico.

A operação para tratar o aneurisma não teve problemas. O que complicou a vida de Pitanguy foi uma segunda intervenção realizada no mesmo dia (técnica chamada de cirurgia em dois tempos, feita com o abdome ainda “aberto”). Aparentemente, ela não teve o mesmo sucesso da primeira. A cirurgia serviu para corrigir uma diástase, esgarçamento das membranas que cobrem os músculos abdominais. De acordo com Pitanguy, o desgaste das membranas foi agravado por uma queda de esqui ocorrida há cerca de três meses. Jatene optou por fazer uma sutura vertical no abdome (leia mais ao lado). Foi justamente essa sutura que arrebentou com a tosse, resultado de uma bronquite. Jatene minimizou o fato de os pontos terem se rompido. “É uma ocorrência desagradável, que pode acontecer e ser corrigida”, afirmou.

Gonzalez acredita, no entanto, que o rompimento dos pontos poderia ter sido evitado se fosse utilizada na superfície externa dos músculos uma tela de polipropileno, material fino e translúcido, para fortalecer a sutura. Essa estrutura não é absorvida pelo corpo. É englobada como se fosse um novo tecido. “Se essa tela tivesse sido usada antes, os pontos não teriam rompido”, garante. A técnica é polêmica. Gonzalez conhece a resistência dos médicos a esse tipo de alternativa por se tratar de um corpo estranho ao organismo. “Uso as telas desde 1965 e nunca tive problemas”, assegura Gonzalez, que adotou o recurso para tratar Pitanguy.

No total, Pitanguy precisou de três horas para ter o intestino delgado colocado no lugar. O cirurgião ainda passou dois dias no Centro de Tratamento Intensivo (CTI), mas para recuperar-se do problema respiratório, que se agravou. Ele só recebeu alta no domingo 2 e continua tomando uma batelada de antibióticos para evitar qualquer possibilidade de contaminação por conta da tela e da prótese utilizada para tratar o aneurisma. “Agora estou 100%, aproveitando para repousar. Nesta segunda-feira, estarei de volta à clínica”, promete Pitanguy. Ele preferiu n comentar a possibilidade de ter ocorrido erro médico e nem sequer confirmou o drama – revelado a ISTOÉ por fontes da família. “Saúde é um assunto privado”, desconversou. 

Passo a passo das cirurgias
1 Pitanguy se submeteu a duas operações em meados de maio

2 A primeira tratou um aneurisma (artéria dilatada) no abdome

3 A segunda reforçou a linha branca, estrutura vertical que une músculos do tórax à pélvis

4 No dia 25 de maio, devido a uma crise de tosse, os pontos da linha branca se romperam, expondo parte do intestino

5 Pitanguy passou por nova cirurgia. A correção foi feita com uma tela presa aos músculos do tórax. Ela é englobada pelo corpo como
se fosse um novo tecido