Tem gente que nasceu para sofrer. E tem gente que pediu para sofrer. Neste segundo grupo estão englobados os assistentes de fotografia. São, na maioria, jovens que trabalham entre 12 e 16 horas por dia, ganham até R$ 1,5 mil por mês e sonham em ser fotógrafos. Um seleto grupo de assistentes dos mais renomados fotógrafos brasileiros como J.R Duran, Bob Wolfenson e Luis Crispino resolveu produzir a mostra 21 Assistentes em exposição. Suas fotos, feitas nas raras horas de folga, provam que a próxima geração de fotógrafos está se preparando muito para clicar o mundo da moda, da publicidade ou o que vier pela frente. O assistente de fotografia é aquele que resolve todos os problemas do fotógrafo. Da montagem da luz de uma foto ao pagamento da conta do celular da ex-mulher do patrão. É o primeiro a chegar no estúdio e o último a sair. Não pode ficar doente, ter crise de TPM (no caso das mulheres) ou querer ver a namorada. Se o fotógrafo pede, o assistente faz. E bem feito. E rápido, porque a foto tem de estar na mão do cliente em poucas horas. “Um bom assistente tem de ser marginal. Não pode ter frescuras”, diz Bruñel Galhego, assistente do famoso J.R Duran. Um dos seus últimos trabalhos foi o ensaio com Luma de Oliveira, para a capa de Playboy. “A gente acaba se acostumando a ver mulheres nuas”, define. Seu colega André Brandão largou o terno e gravata, guardou seu diploma de engenheiro do MIT (considerada a melhor faculdade dos EUA) na gaveta e entrou de cabeça no mundo das imagens. Idealizador da exposição, Brandão abriu mão de altos salários em consultorias como A. T. Kearney e Booze Allen para fazer o que realmente gostava. “Sou apaixonado pela fotografia desde os 11 anos. Não me arrependo”, diz o atual assistente de Felipe Hellmeister e ex-Duran.

Pequenos detalhes determinam a vida de um assistente de fotografia. Todos carregam, por exemplo, dezenas de chaves. Uma para abrir o estúdio, outra para a sala de equipamentos, uma terceira para o quadro de força e assim por diante. Além do esforço físico para carregar todo o equipamento, o assistente tem de entender um pouco de marcenaria, eletricidade e psicologia. “O relacionamento com o fotógrafo tem de ser muito bom. Passamos a maior parte do dia com ele e vice-versa. Quem não se der muito bem, não consegue”, diz Peetssa, atual assistente de Bob Wolfenson. De todos do grupo, Peetssa é o mais revoltado. Paralelamente a seu trabalho, ele tenta chocar a sociedade com ações criativas e visuais. “Quando o Lalau foi preso fiz um boneco dele enforcado e pendurei na frente da Polícia Federal”, diz o rapaz que pede para ser famoso somente depois de morrer. Mais serena e não menos batalhadora, Helka Lu é uma assistente diferente. Primeiro porque é mulher, num ambiente predominantemente masculino, e também porque é mãe de um menino de quatro anos. “Se me ligarem no meio de uma foto dizendo que meu filho quebrou o braço, ele vai ter de esperar”, radicaliza. Mas ela sabe que lá no fundo fotógrafo também é ser humano. Se acontecer alguma coisa com seu filho, o fotógrafo libera. Mas o suficiente para engessar o bracinho e voltar para o estúdio. 


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