13/06/2001 - 10:00
Medo, ansiedade, frustração, revolta. Há um mês, esses sentimentos escurecem o coração da maioria dos brasileiros. Desde que o governo anunciou a possibilidade de haver um apagão e depois a certeza da sobretaxa, não há mais como viver com o mínimo de serenidade. Como mudar a rotina da noite para o dia, pagar mais e, ao mesmo tempo, conviver com a idéia de que, a despeito de todos os esforços, a luz pode simplesmente apagar? Mais do que se tornar o assunto de todas as rodas e lugares, o apagão virou fonte de stress. E, sem trocadilho, isso consome uma tremenda energia interna. A psicóloga paulista Marilda Novaes Lipp, do Centro de Controle do Stress, lembra que a população está tendo de conviver com uma situação de incerteza, sobre a qual não tem controle. “Esse é o pior tipo de stress. Estamos num momento semelhante ao do Plano Collor: fomos pegos de surpresa, sem direito a opinião e proteção”, diz ela. “A consequência, num primeiro momento, é apatia, desânimo”, completa. Em seguida, podem vir sintomas físicos como azia, úlcera, falta de sono, de apetite e depressão.
Talvez esse último sinal não precise esperar muito tempo para aparecer. Para o psiquiatra Arthur Kaufman, professor de psicologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, muita gente está de baixo-astral com essa economia de energia elétrica. “O inverno já é cinzento. Agora, entramos em vários ambientes e está tudo triste. A maioria das luzes está apagada, com uma bem fraquinha acesa. Isso acentua a tendência depressiva de algumas pessoas”, afirma. Essa meia-luz e a eventualidade de viver boa parte do tempo no escuro – caso o apagão ou os cortes venham mesmo a acontecer – também remetem a um sentimento primário: o medo do escuro. Kaufman explica que todos os nossos monstros internos são protegidos pela escuridão: “O bicho-papão vem pegar quando a criança dorme, o vampiro só vive à noite. O escuro está no nosso imaginário desde que nascemos”, diz.
Outro fantasma habita o imaginário do brasileiro. A psicóloga paulista Magdalena Ramos lembra que a população hoje lida com algo desconhecido, por isso está insegura. “Todo mundo está com medo da violência e de outras ameaças que a escuridão favorece”, diz ela. “O brasileiro foi pego de calça curta. O governo, que deveria cuidar e proteger, não só deixou de fazer isso como ainda pune a população por algo que ela não fez. É ameaçador”, conclui.
Colaboraram: Ângela Oliveira, Chico Silva e Eliane Lobato
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