Um livro com apenas 100 páginas, capa que imita textura de couro, folhas com as bordas douradas e marcador em tecido suave irá provocar polêmica no Brasil depois de o papa deixar o País. Trata-se de The Gospel according to Judas (O Evangelho Segundo Judas). A obra já circula pela Europa e mostra uma outra versão para a traição de Judas. O apóstolo não teria entregue Jesus em troca de dinheiro, mas sim por razões políticas e ideológicas. De acordo com os autores, Judas entrou em rota de colisão com Jesus. Não questionava sua liderança, mas estava decepcionado porque, mesmo atraindo multidões, o líder se recusara a expulsar os romanos do poder. Apesar de não ser uma obra oficialmente reconhecida pela Igreja, o Vaticano ainda não se manifestou contra ela, muito embora em Roma haja quem assegure que seu conteúdo já é conhecido pelo papa Bento XVI, que teria lido uma versão alemã do livro. A favor do texto é de se considerar o prestígio que um de seus autores, o acadêmico Frank J. Moloney, tem junto ao Vaticano. Na cúpula católica, Moloney é considerado um dos grandes especialistas em estudo bíblico e praticamente toda a obra se baseia em evangelhos canônicos por ele analisados, todos aceitos pelo Vaticano. O outro autor do “quinto evangelho”, como vem sendo tratado o livro, é o escritor de best sellers Jeffrey Archer, um dos mais lidos na Inglaterra.

“Esse novo evangelho é interessante e plausível”, admite o arcebispo sul-africano Desmond Tutu, amigo de Archer, que teria sido um dos responsáveis por levar o novo texto para dentro do Vaticano. Mas, nem tudo no Evangelho Segundo Judas requer interpretação científica. Para dar fluidez à leitura, os autores optaram por usar um narrador fictício e criaram um certo Benjamin Iscariotes, que seria o filho primogênito de Judas. Na releitura da história feita agora pela ótica de Judas, Jesus não é tratado como o Messias, mas como um profeta a serviço da libertação.

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POLÊMICA Archer lança o livro em Roma e ainda
não conhece a opinião do papa

A obra certamente provocará polêmica em todo o mundo, principalmente no Brasil, o maior país católico do planeta, onde as crianças costumam malhar bonecos do Judas. Mas não é a primeira vez que se faz uma outra leitura sobre o papel de Judas. No ano passado, a National Geographic Society apresentou um papiro encontrado na década de 1970 em uma caverna no Egito. O documento também ficou conhecido como o “evangelho segundo Judas” e questiona a versão oficial de que o apóstolo teria traído Jesus em troca de 30 moedas de prata. Na história do papiro, Judas e Jesus teriam acertado previamente a traição, pois era necessário que o Messias fosse crucificado para depois ressuscitar. Assim, Judas não seria, como estabelece a versão oficial, um traidor, e sim um dos mais fiéis dos apóstolos, que teria concordado em marcar definitivamente sua biografia de forma negativa.

Além dos motivos para a traição de Judas, o livro de Archer e Moloney também polemizará por negar dois milagres atribuídos a Jesus: o de transformar a água em vinho e o de caminhar sobre a água. Segundo declarações de Moloney à imprensa, essa versão permite aos cristãos praticantes que reconsiderem alguns mitos que parecem pouco precisos. Apesar de tudo isso, os autores não tratam o livro como um revisionismo.

Manuscrito O papiro encontrado em caverna do
Egito também aponta outra versão para a traição de Judas