Na França absolutista do século XVII, o que hoje se chama promoter era conhecido como maître des plaisirs. François Vatel (Gérard Depardieu) era talvez o mais competente deles. Trabalhou durante o faustoso reinado de Luís XIV. Mas, se o poder se centrava nas mãos do Rei Sol, o prazer hedonista era totalmente comandado pelo tal cozinheiro e mestre-de-cerimônias, personagem principal do filme Vatel – um banquete para o rei (Vatel, França/Inglaterra, 2000), de Roland Joffé, em cartaz em São Paulo na sexta-feira 15.

Autor de superproduções medianas como A missão, desta vez Joffé acertou com um espetáculo cintilante no qual é visível cada centavo dos US$ 36 milhões gastos na produção. A suntuosidade da fita, embalada pela música do francês Jean-Philippe Rameau e embelezada pela grande pintura barroca, está a serviço de uma trágica história de bastidores, que mostra o encontro de Vatel com a dama Anne de Montasieur (Uma Thurman). Empregado do Príncipe de Condé, ele fica encarregado de um banquete de três dias oferecido ao Rei Sol pelo morador do Castelo de Chantilly. No frenesi perfeccionista, Vatel encontra tempo para se apaixonar pela amante do rei, antevendo o infortúnio de uma história verdadeira. Joffé a conta com elegância, exibindo a monstruosidade por trás do dispêndio das cortes de antigamente e – por que não? – das de agora.