Victor Ward é modelo, um cara descolado que tem sempre na manga uma frase de efeito. “Todo mundo é tão magro e bonito, meu bem. Estou deslumbrado, a cocaína fluindo no meu corpo. E os dentes das pessoas são… tão brancos”, diz ele em certo momento. Ward lamenta muito que o mundo também seja feito de gente feia e acontecimentos tristes. Mas tudo é uma questão de má distribuição de genes. No seu cotidiano, ele se seca com toalhas Ralph Lauren, passa nas pálpebras Preparation H e Eye Fitness, da Clinique, veste cuecas Calvin Klein e se concentra naquilo que julga ser realmente importante nesta vida: a inauguração da próxima boate que promete abalar Nova York. Personagem central de Glamorama (Rocco, 436 págs., R$ 43,50), Victor Ward conduz uma trama que une dois mundos absolutamente antagônicos, mas iguais na crueza: o da moda, que rejeita e condena em nome da juventude e da beleza, e o das ações terroristas, que nega e mata sob a bandeira dos ideais políticos. Aids, drogas, silicone, sexo, relacionamentos falsos e grifes e mais grifes são absolutamente aceitáveis para o protagonista. Mas a violência que cerca os terroristas, com os quais inadvertidamente se envolve, acaba gerando um sério baque na sua vida.

O californiano Bret Easton Ellis, 37 anos, acertou em cheio ao destruir o mundinho das celebridades com a mesma elegância que uma top model desliza na passarela. Impossível não apostar numa futura adaptação cinematográfica do livro para o cinema, caminho seguido por dois de seus romances, Abaixo de zero – sua estréia aos 21 anos – e O psicopata americano. Considerado especialista em retratar a própria geração, Ellis tem agora outro plano em mente. Resolveu descartar personagens fictícios para debruçar-se impiedosamente sobre a celebridade que mais o incomoda: ele mesmo, tema da biografia que começou a escrever.


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