Um grande ponto de interrogação passou a tomar conta do ambiente eleitoral. Muitos querem saber exatamente no que se baseia a “Nova Política”, expressão cunhada pela presidenciável Marina Silva para batizar sua proposta de governo, caso eleita. Na prática, o que se viu por esses dias é que a tal “Nova Política” em pouco, ou quase nada, se difere do que vem sendo adotado aqui e ali. Marina, no afã pela conquista do poder, fala em governar com um arco de alianças que a levará, invariavelmente, ao velho esquema de conchavos e do toma lá dá cá, tão usual por esses dias. Na verdade, a candidata já incorporou a filosofia ao aceitar em sua chapa um vice que recebeu doações de fabricantes de armas e bebidas, articulou a aprovação da lei de soja transgênica e se colocou do lado oposto ao seu no tema das pesquisas com células-tronco. Para alguém tão ciosa de princípios e crenças, essas concessões soam demasiadamente negativas. Bem como a falta de rigor que ela e sua base de apoio partidário tiveram ao usar na campanha um jatinho que foi comprado, ao que tudo indica, de maneira irregular através de “laranjas”. Se não é ilegal, no mínimo tamanho descuido pode ser visto como imoral. Confrontada com o problema, Marina recorreu ao argumento dos velhos coronéis da política dizendo que nada sabia. Ao fechar os olhos a malfeitos e seguir no acasalamento político por conveniência, a candidata flerta com as deploráveis práticas que tanto condena. Como superar tamanha incoerência? Há decerto um poço de contradições entre as bandeiras ideológicas da ambientalista e as promessas que prega em palanque como candidata. E se isso é a “Nova Política”, carrega muito de cinismo em seu escopo. Fica daí a dúvida sobre como ela irá se comportar caso assuma o Planalto. A Marina que vende a retomada do desenvolvimento é a mesma que quer colocar um cabresto no agronegócio, principal motor da economia doméstica. Sem definir propostas ou detalhar planos, surfa na conveniência do discurso generalista que soa simpático às massas, mas que peca na consistência e no leque de alternativas concretas para colocar o País de volta aos trilhos. Como ainda não foi confrontada com firmeza pelos adversários, segue na tática de anunciar a “Nova Política” – uma palavra de ordem que pode encantar plateias, mas que não passa de mero truque retórico, comum em campanhas eleitorais.