A popularidade do presidente francês François Hollande já andava em baixa quando, em abril, decidiu fazer um movimento ousado. Hollande acenou para a direita ao convocar o liberal Manuel Valls para o cargo de primeiro-ministro, com a promessa de aumentar a competitividade das empresas francesas, reduzir drasticamente os déficits, atrair novos investidores e restaurar o nível de empregos. Valls trabalharia junto com o heterodoxo Arnaud Montebourg, da ala mais à esquerda do Partido Socialista, escolhido como o então novo ministro da Economia. A parceria durou pouco. Na semana passada, ruiu de vez. Montebourg, que por mais de uma vez se engajou em bate-bocas com executivos de grandes empresas, como a Alstom e a ArcelorMittal, passou a ser considerado um dissidente dentro do próprio governo ao criticar publicamente a austeridade da política econômica. Acabou demitido junto com outros dois ministros – Benoît Hamon, da Educação, e Aurélie Filippetti, da Cultura.

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COERÊNCIA
François Hollande quer agora um governo unido no compromisso com
o corte de gastos públicos e a redução do desemprego na França

Para completar a reforma ministerial, Hollande colocou o ex-banqueiro Emmanuel Macron no comando da política econômica. Assim, ele espera enviar sinais de coesão e comprometimento à agenda da União Europeia, além de renovar seu investimento no chamado “pacto de responsabilidade”, uma combinação de cortes de gastos públicos com incentivos fiscais para as empresas em troca da criação de postos de trabalho. Esse seria seu esforço derradeiro em interromper um ciclo de economia estagnada e desemprego em alta recorde, e deixar um legado positivo em sua passagem pelo Palácio do Eliseu. O impacto na aprovação do presidente mais impopular da república francesa é incerto. “Por um lado, muitos eleitores darão crédito a Hollande pela autoridade que ele demonstrou ao demitir Montebourg”, disse à ISTOÉ Bruno Cautrès, do Centro de Pesquisas Políticas do instituto Sciences Po, de Paris. “Mas, por outro, o eleitorado mais à esquerda vai considerar que ele não votou em 2012 pelas orientações de Valls ou Macron.” Nos próximos meses, o novo gabinete deverá se submeter a um voto de confiança no parlamento.