Desde fevereiro, o ex-diretor de marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato encontra-se preso na penitenciária Sant’Anna localizada em Modena, na Itália. Mas o condenado no processo do mensalão a 12 anos e sete meses de detenção não tem muito do que reclamar da sorte. Claro que viver encarcerado não faz parte do sonho dourado de ninguém, mas pode-se dizer que, até agora, a fuga do Brasil tramada por ele em setembro de 2013 tem compensado – e muito. Na segunda-feira 18, a reportagem de ISTOÉ entrou na penitenciária onde Pizzolato aguarda preso a conclusão do processo de extradição movido pelas autoridades brasileiras. Em quase quatro horas de visita ao local, foi possível conferir as instalações, as celas, as áreas de lazer e banhos de sol, a cozinha e até setores destinados aos filhos dos detentos. Considerando a situação dos presídios brasileiros, é incontestável que o ex-dirigente do Banco do Brasil poderia estar numa pior se tivesse sido detido em seu País de origem, como os demais condenados no mensalão. O local prioriza a ressocialização e o bem-estar dos detentos e lembra mais um hotel quatro-estrelas do que propriamente um presídio como estamos acostumados a ver no Brasil. Os agentes penitenciários nem cacetetes podem usar. As armas ficam depositadas numa sala localizada na entrada no prédio principal. 

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Diariamente, os presos, Pizzolato incluído, caminham livremente por alas pintadas com cores pastel como o rosa-salmão e o verde-claro. Das 8h30 às 19h, o condenado no mensalão – considerado pelos agentes uma pessoa “pacata” e que “não causa problemas” – pode entrar e sair das celas, caminhar pelos corredores, ir à lavanderia e estender roupa, além de frequentar a sala de convivência quantas vezes quiser. Tudo é controlado por câmeras. Na entrada de cada ala, há uma guarita onde os agentes penitenciários, através de nove monitores, conseguem observar os presos o tempo todo. As celas ainda são dotadas de interfones por meio dos quais, a qualquer momento, os detentos podem falar com os agentes em serviço. Chamam a atenção a limpeza e a ordem desses espaços comuns. Segundo Rosa Alba Casella, diretora do presídio, esse método de vigilância, inspirado no modelo espanhol, foi adotado por alguns cárceres italianos a partir do ano passado. “É um novo modo de vigiar que trabalha em benefício tanto do agente quanto do detento. O conceito de vida dentro das celas é invertido. O detento assume as suas responsabilidades no interior da estrutura, reaprende a conviver e estar com o outro e a cela passa a ser somente um lugar para o descanso e o repouso”.

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TRANQUILIDADE
Das 8h30 da manhã às 19h, o condenado pelo mensalão pode entrar
e sair das celas, caminhar pelos corredores, ir à lavanderia e estender
roupa, além de frequentar a sala de convivência quantas vezes quiser

Na carcerária de Sant’Anna, Pizzolato e os demais detentos têm acesso a quatro horas por dia na área externa, dedicadas ao famoso banho de sol: duas horas na parte da manhã e duas na tarde. Pensando no bem-estar dos filhos dos detentos, que porventura possam visitá-los, foram construídas recentemente duas brinquedotecas com livros, brinquedos, móveis infantis, desenhos nas paredes e até carrinhos de neném. Uma verdadeira creche. E de bom padrão. No jardim externo há até um escorregador. “Fazemos de tudo para que a experiência do cárcere seja o menos traumática possível para a criança. Ela deve ser preservada”, diz Casella.

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Há um generoso espaço verde ao redor de todo o complexo transformado em horta onde trabalham pelo menos 100 presos, num sistema de rodízio, com a supervisão de um agrônomo. Ali são plantados tomates, cenouras, pepinos, maçãs, peras e berinjelas que são vendidas em uma rede de supermercados local. Os presos são responsáveis por tudo: da plantação à colheita e até a confecção dos alimentos. Não por esses serviços – que servem para abater as penas –, mas na penitenciária de Pizzolato, em Modena, os presos podem até receber dinheiro de fora. O valor é depositado numa conta bancária do presídio em nome do detento. Este, por sua vez, recebe uma espécie de carnê com cupons – no valor equivalente ao dinheiro depositado – que ele pode usar para comprar bens de consumo como cigarros e algumas comidas. Aos agentes cabem recolher as encomendas e os cupons de pagamento e, no final do dia, fazer a entrega dos produtos que são comprados no armazém situados no interior da estrutura. Ao deixar a penitenciária, o preso recebe em dinheiro vivo a quantia que eventualmente restar na conta. Não se sabe se Pizzolato teria algum dinheiro guardado em sua conta pessoal no Sant’Anna. Apesar dos questionamentos de ISTOÉ, os diretores da instituição alegaram que não poderiam fornecer esse tipo de informação sobre Henrique Pizzolato ou qualquer outro detento.

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Atualmente, o presídio de Modena abriga 381 detentos, dos quais 236 estrangeiros e 145 italianos. O presídio também conta com uma ala feminina, onde estão 27 mulheres. São nove alas no total: seis no pavilhão velho e três no pavilhão novo. O velho, onde se encontra Pizzolato, tem celas de 9m2 destinadas a duas pessoas e é ocupado por quem está aguardando julgamento. O pavilhão novo é destinado aos que foram condenados de forma definitiva. Nessa ala, as celas são maiores – medem 16m2 e abrigam até quatro pessoas – e bem iluminadas, graças às enormes janelas amarelas. Em comum, entre todas as celas, são os banheiros internos, com ducha com água quente, privada e pia. Além de armários, mesa e cadeiras, uma para cada um dos presos. Um dos (raros) defeitos do local é a falta de autorização para visita íntima. Mas trata-se de uma regra do País. Segundo a diretora, a visita não está prevista na lei italiana. “Mas existem permissões de saídas em que o detento visita a família.”, ponderou Casella.

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Um dos detentos mais ilustres da penitenciária de Sant’Anna, Pizzolato aguarda para outubro um parecer final sobre o pedido de extradição. Em abril deste ano, o Ministério Público italiano pediu que o governo brasileiro esclarecesse em qual presídio Henrique Pizzolato cumprirá a pena caso seja extraditado e se no País as instalações prisionais têm condições de garantir os direitos humanos do detento. A Justiça brasileira demorou tanto para dar uma resposta que a audiência do dia 5 de junho, que deveria julgar a extradição, foi adiada para daqui a dois meses por falta de informações, como comprova transcrição obtida com exclusividade pela ISTOÉ. No final, o Brasil enviou dois relatórios: um sobre a penitenciária da Papuda, em Brasília, onde estavam presos os demais condenados do mensalão e outro sobre as penitenciárias de Curitibanos e do Vale do Itajaí, localizadas em Santa Catarina, região onde Pizzolato nasceu. Os relatórios, também obtidos por ISTOÉ, mostram fotos de celas e ambientes vazios que não dão exatamente a ideia de como é o dia a dia dentro dessas estruturas carcerárias. Pizzolato, obviamente, torce para permanecer no presídio classe A de Modena. 


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