A noite de quarta-feira, 10, marcou a 37ª edição do Prêmio HQMIX, uma das principais vitrines dos quadrinhos brasileiros. Mesmo com a plateia menor que o habitual – efeito provável das ventanias que atingiram São Paulo ao longo da semana – a cerimônia manteve o clima de encontro entre gerações, com homenagens, discursos e celebração de iniciativas que ampliam o alcance do mercado nacional para além dos gibis de Batman e Super-Homem.
Criado no final dos anos 1980 pelos cartunistas Jal e Gualberto Costa, o Prêmio HQ Mix nasceu com a proposta de reconhecer e documentar a produção de quadrinhos no Brasil, servindo como um termômetro anual do setor. Inspirado em iniciativas internacionais, o prêmio rapidamente se consolidou como referência nacional para autores, editoras, pesquisadores e leitores, ajudando a registrar a evolução editorial e cultural dos quadrinhos no país. Ao longo das décadas, o evento ampliou suas categorias, incorporou teses acadêmicas, premiou eventos e coletivos regionais e se tornou uma espécie de arquivo vivo da história dos quadrinhos brasileiros.
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O local de realização manteve a conexão histórica do HQ Mix com o Sesc São Paulo, parceiro tradicional da premiação. Desde o ano passado, a cerimônia acontece no Sesc 14 Bis, uma das unidades mais recentes da rede. Nesta edição, a estatueta escolhida como troféu representou Tiodora, personagem central do quadrinho Mukanda Tiodora – obra de Marcelo D’Salete – produzida pelo artista Bruno Braga, do Instituto Impressão 3D, em Pernambuco.
Como de costume, o jornalista Serginho Groisman, padrinho e apresentador oficial, abriu a cerimônia. Ele conduziu parte das entregas dos troféus, mas deixou o palco antes do encerramento devido a outro compromisso profissional. O evento seguiu sob o comando de Jal e Daniela Baptista, organizadores do evento e figuras centrais na manutenção do prêmio ao longo dos anos.
Consagrações
Um dos tributo mais significativos da noite foi dedicado a Maurício Pestana, referência histórica na produção de quadrinhos voltados ao combate ao racismo e à promoção dos direitos humanos. Pestana, cuja obra atravessa décadas discutindo desigualdade racial por meio de tiras, charges e projetos editoriais, foi celebrado não apenas pelo impacto artístico, mas pela relevância de seu trabalho na formação de leitores e no estímulo a novos autores negros.
Já entre os prêmios mais aguardados, a Editora Brasa voltou ao palco para receber o troféu de Editora do Ano, repetindo o feito do ano passado. Com um catálogo que promove projetos autorais e nacionais, a Brasa consolidou presença na cena cultural e é citada como exemplo de consistência e crescimento em um mercado competitivo.
A cerimônia também chamou atenção pela forte presença de artistas do Norte, muitos deles ligados a iniciativas como o Norte em Quadrinhos. Coletivos e autores da região receberam premiações em diferentes categorias, reforçando a expansão geográfica do mercado e o reconhecimento de produções que, por muito tempo, circulavam de forma restrita.
Entre as demais categorias, a cerimônia destacou produções que atravessam diferentes estilos e formatos dos quadrinhos atuais. O Eternauta – Edição Definitiva, da Pipoca&Nanquim, levou os prêmios de “Melhor Publicação de Clássico e Edição Especial Estrangeira”, reforçando a potência contínua da obra (agora transformada em série da Netflix) na formação de leitores de quadrinhos latino-americanos. Já no campo infantil, Do Contra: Herança, da Maurício de Sousa Produções, foi o título premiado.
O resultado final é fruto de um processo de avaliação de obras lançadas ao longo de 2024, conduzido por um júri composto por Daniela Baptista (IMAG), Anne Quiangala, Nara Bretas Lage, Thiago de Barros Carneiro, Natania Ap. da Silva Nogueira e José Alberto Lovetro (Jal). Já a comissão responsável pela análise de teses acadêmicas contou com coordenação de Sonia Bibe Luyten e participação de Ricardo Jorge, Waldomiro Vergueiro, Carlos Alberto Machado e Nobuyoshi Chinen, reforçando o compromisso do HQ Mix com a pesquisa e a preservação da história dos quadrinhos no país.