Supla fala sobre o namorado da mãe, Luís Favre, de seu pai e de Bárbara. E diz que queria ver Silvio Santos e Roberto Marinho na Casa dos artistas

Comer um prosaico sanduíche virou um tormento na vida de Eduardo Smith de Vasconcelos Suplicy. Na manhã em que foi feita esta entrevista, Supla, 35 anos, demorou mais de uma hora para engolir uma baguete recheada com queijo branco, alface e peito de peru. A conversa foi interrompida duas vezes. Só foi concluída porque a reportagem acompanhou o cantor no carro que o levou da sede da gravadora Abril Music, nos Jardins, em São Paulo, até a rádio Transamérica, na zona oeste. Dali, o novo Rei da Mídia, como se auto-intitula, seguiu para outro programa na Rádio Jovem Pan, região da Paulista. Nos próximos dias, essa deverá ser a rotina do superstar da Casa dos artistas. A não ser que Bárbara Paz o carregue para um lugar bem longe. Depois da Casa dos artistas, os dois primeiros CDs de Supla foram relançados. O último, O Charada brasileiro, vendeu 250 mil cópias. Para os próximos meses, tem 30 shows agendados. Um deles será no badalado festival de verão de Salvador. Mas a agenda não o afasta das coisas do lar. Irritado, Supla cobra do PT a realização das prévias que decidirão o candidato do partido à Presidência da República. A disputa está entre seu pai e Lula. E manda um recado para Luís Favre. “Se ele não fizer minha mãe feliz, vai se ver comigo.”

ISTOÉ – O seu romance com a Barbara Paz foi verdadeiro ou tratou-se de uma armação para segurar o Ibope?
Supla – Se eu não gostasse dela, você acha que eu ficar beijando uma pessoa para sair no Ibope? Puta que pariu! Vai te a merda! Imagina você ficar 50 dias no meio de um monte de intriguinhas. É muito melhor estar com uma mulher e ela com um cara, trocando carinhos, do que ficar charolando, armando para ver quem leva a melhor. Eu tenho atração por ela, gosto muito da Bárbara como pessoa. É bonita por dentro e por fora. Era gostoso ficar junto com ela. Nós curtimos.

ISTOÉ – O namoro vai pular os muros da casa? A Bárbara disse que adoraria sumir com você neste final de ano.
Supla – Ela gostou de mim e eu dela. Tudo bem que se criou uma novela. As pessoas querem saber o que acontecerá daqui para a frente. Mas vão ficar querendo saber. Até porque eu e ela não sabemos. Eu não sei para onde vou, o que eu quero fazer ainda. Sou bicho solto, alma solta por aí. Os caras gostam de enquadrar você. Vai namorar aqui, vai namorar ali. Vão cuidar da suas vidas!

ISTOÉ – Green Hair (Japa girl) é uma ode a várias mulheres que passaram pela sua vida. Você é uma espécie de garanhão punk-espetado-oxigenado?
Supla – Ninguém me viu posando com as minhas namoradas, desfilando por aí como se fossem meus troféus. Eu saio com um monte de meninas. Mas não as trato como troféus. Não fico comendo tudo quanto é tipo de menina. Gosto de ter relações com pessoas, conversar. Mas sou até meio tímido. Para eu ter alguma coisa com uma garota demora um pouco. Gosto de paquerar. Sabe, paquerar. Acho engraçado. Eu guardo a minha privacidade. Mas na Casa dos artistas não deu. Todo mundo estava vendo.

ISTOÉ – Muita gente acredita que se hoje você resolvesse se candidatar teria mais votos que sua mãe e seu pai. O Supla tem alguma ambição política?
Supla – Acho que poderia ser um bom político, se quisesse. Mas não tenho essa intenção. Poderia ter me candidatado há algum tempo. Mas não estou muito a fim de entrar na política. A única coisa que penso é em divulgar O Charada brasileiro.

ISTOÉ – Então vamos fazer um teste. Você acredita ter qualidades e atributos para ser um bom político?
Supla – Sou um cara bem perseverante. E nunca perco a esperança. Aliás, essa foi uma das melhores mensagens que dei no programa. O povo brasileiro não pode perder a esperança de uma vida melhor. O próprio Sílvio é a maior prova disso. O cara começou a vida como camelô. Hoje, dá emprego para milhares de pessoas. Por quê? Ele teve fé e acreditou no seu talento. Sou também uma pessoa humilde. Acredito que essa minha popularidade vem muito disso. Quando eu vou ao estádio de futebol fico na arquibancada, com a Torcida Jovem do Santos. Fui vice-campeão de boxe no torneio de A Gazeta Esportiva. Ali o pau come, meu! Para mim você pode ser preto, negro, japonês. Para mim, todos são da mesma tribo.

ISTOÉ – Muita gente o acha exibido? Isso é um defeito? Se for, é o único?
Supla – Eu sou exibicionista total, lógico que sou. Mas isso não quer dizer que não seja humilde, como já disse. Meu ego é um pouquinho grande. É uma coisa que preciso trabalhar. Mas se você não tem ego é melhor nem ir para o rock’n’roll.

ISTOÉ – Que história é essa do clipe sido uma patricinha. Isso foi um arroubo provocado pela separação ou é o que realmente pensa?
Supla
– Fui mal interpretado. Tanto minha mãe como meu pai vieram de famílias ricas. Só que meu pai começou a se interessar antes por questões sociais. Já estava procurando uma maneira de melhorar o Brasil. Mas em nenhum momento eu quis diminuir a importância dela. Minha mãe tem total mérito. Tanto que os dois foram sozinhos estudar nos Estados Unidos. Ganharam bolsa. Não foram os pais que deram. Tenho muito respeito por ela. É uma tremenda trabalhadora. Enquanto meu pai lutava, ela segurava muitas barras dentro de casa. Acho uma sacanagem quererem me colocar contra ela. Na Casa dos artistas eu fiz até uma música falando sobre a mãe. A música é assim “Eu digo mãe/não se preocupe comigo que aqui tá tudo bem/ nesse vai e vem./É gostoso viver sempre torcendo para mim/eu sei que eu vou tentar/não errar para você/mas ainda tem uma coisa que eu quero te dizer/por tudo que você fez por mim/te agradecer assim/e os meus olhos brilham/falam de você/ei mãe/você é demais.

ISTOÉ – Recentemente sua mãe deu nota 7,5 para o primeiro ano à frente da Prefeitura de São Paulo. Qual a nota do filho para a administração Marta Suplicy?
Supla – Não posso fazer um negócio desses. Fiquei 50 dias totalmente por fora. No momento, só estou focado no disco. Minha cabeça está a mil. Acabei de sair da Casa. Preciso de um tempo. Nem como cidadão nem como filho teria condições de analisá-la. Não posso dar uma opinião sem ter informação. Deixa eu me inteirar primeiro.

ISTOÉ – Vocês conversam sobre os problemas da prefeitura? Teria coragem de criticá-la?
Supla – Se eu pego um táxi e o cara me diz alguma coisa, ligo para ela e pergunto: “Que história é essa do táxi”? Ela fala: tem isso, isso e isso e a gente tem verba para isso, piora um pouco aqui mas melhora ali. Ela tenta balancear, ver o que é melhor para a população. Acho que está fazendo o que pode. Uns gostam, outros não.

ISTOÉ – Você tem algum tipo de relacionamento com o Luís Favre, o namorado de sua mãe?
Supla – Eu não sei nada sobre o Favre (a dificuldade na pronúncia denuncia a falta de intimidade com o nome). Conversei uma vez com ele. Foi na época em que ajudava minha mãe na campanha. Só. Você está fazendo essa pergunta para dar uma farpinha nela. Repito. Não sei nada sobre ele. Teve até uma matéria que saiu num grande jornal de São Paulo dizendo que eu expulsei o cara de casa. Eu nem estava no Brasil na época dessa reportagem. Sei que parece ser uma pessoa educada. Só isso. Mas, sinceramente, espero que ele faça minha mãe feliz. Se não fizer, vai se ver comigo. Com certeza! Isso vale para quem estiver com o meu pai também. A pessoa tem que ser legal. Eu quero que meu pai e minha mãe sejam felizes.

ISTOÉ – Seu pai e você estão solteiros. Você pretende levá-lo para os agitos noturnos?
Supla – Seria muito engraçado. Mas eu acho que não. Desde moleque eu tinha vergonha que meu pai e minha mãe me buscassem em uma festa. Uma vez meu pai foi me buscar e eu disse para ele “me pegar na esquina”. Não adiantou nada. Todos os meus amigos viram “olha seu pai, olha seu pai”, eles disseram. Fiquei morrendo de vergonha. Posso até levá-lo nas paradas. Se ele quiser sair qualquer dia, pode sair. Mas acho meio difícil isso acontecer. E também tem outra: eu não saio por aí para ficar galinhando.

ISTOÉ – Seu pai tem um sonho: a Presidência da República. Parece clara a resistência do partido para que as prévias entre ele e Lula de fato aconteçam. Seu pai está sendo prejudicado?
Supla –Tem que ter a prévia mesmo, de verdade. Pessoas dentro do partido disseram que as prévias prejudicariam o PT, que os debates desgastariam o Lula. Muito pelo contrário. Quanto mais se debate, mais se aprende e mais o Lula, caso vença as prévias, estaria mais preparado para a campanha. O PT não é o partido da democracia? Que faça então as prévias e pare de pensar que elas irão desgastar o candidato. Houve uma idéia inicial de não se fazer as prévias. Acho erradíssimo isso. E falo na cara de qualquer um! (irritado). Se o Lula for o mais votado, você está careca de saber que meu pai vai dar apoio a ele. Se meu pai for, que o Lula faça o mesmo por ele. Dizem que meu pai não tem chance. Mas tudo é possível na vida. Eu não vendi 250 mil discos por uma gravadora independente?

ISTOÉ – Se o seu pai vencer as prévias do PT, você fará campanha para ele? Com um cabo eleitoral desses, as chances de o senador Suplicy chegar ao Planalto aumentariam muito…
Supla – Eu torço pelo meu pai. Não é porque é pior ou melhor do que o Lula. É porque ele é meu pai. E eu acho que ele poderia dar um grande presidente para o Brasil. Tem uma credibilidade incrível, é um cara que trabalha para burro, informado e honesto. Se o Lula perder e pedir para todos os seus eleitores votarem no meu pai, eu acho que ele teria muita chance de ganhar a eleição. Assim como fiz na campanha da minha mãe, eu subiria no palanque para cantar. Mas teria que ser uma coisa muito bem feita. De filho para pai. Não um negócio político. Eu não iria defender idéias, programas de governo. Iria exaltar a honestidade que esse homem tem.

ISTOÉ – É verdade que você foi convidado para substituir Babi no Programa legal, no SBT? E também teria recebido uma proposta para assumir os Piores clipes, na MTV?
Supla – Não recebi nada. Se me convidarem para fazer uma novela, ou um programa na MTV, no SBT, eu vou estudar a proposta e ver qual é a melhor. Preciso ver qual delas se encaixa em meus compromissos. Mas para isso tenho até uma música. Parabéns, Papito conseguiu aparecer/mas no final das contas não tem jeito não/esse é meu dia de televisão/ vamos ver tevê para se entreter/pode até falar mal/fica até mais legal/ eu sei, só tem programa ruim/mas eu gosto Its only rock’n’roll baby. O Rei da Mídia tá solto.

ISTOÉ – Seria engraçado vê-lo substituindo o Marcos Mion (ex-apresentador do Piores, que está de malas prontas para a Band), o cara que ao tentar ironizá-lo acabou transformando-o em sucesso… É verdade que você quis dar umas porradas nele?
Supla – Um amigo viu o programa e disse que tinha um comédia tirando onda com meu vídeo Green hair (Japa girl). Aí eu o encontrei em uma festa. Cheguei dizendo “ô seu corno, bunda mole, vou quebrar sua cara”. Assustado, o Mion disse: “Não, pelo amor de Deus.” Aí eu disse: “Se liga, tô brincando. Mas agora você vai ter que falar mal de todos os meus vídeos, toda hora, todos.” Eu acho que contribuí muito para o programa dele. Ele me deu a chance porque sabe que eu tenho um monte de vídeos e tenho coisas a dizer. Eu aproveitei isso. Era mais uma forma para o Rei da Mídia soltar a bomba.

ISTOÉ – Se você pudesse escolher, quem levaria para a Casa dos artistas 2?
Supla – Eu gostaria de ir com o Roberto Marinho e o Silvio Santos para os dois conversarem sobre televisão. Acho que deveria ser uma conversa bem interessante. Ia levar também uma bicha bem louca e umas duas capas de Playboy ou de Sexy, só para zoar o barraco. Seria legal levar uns políticos. Um de esquerda e outro de direita. Meu pai e minha mãe, não. São muito sérios. O Agnaldo Timóteo seria engraçado. Uns pitbulls, tipo Alexandre Frota, não poderiam faltar. Um cara da polícia Civil, junto com um cara da periferia, tipo um casca-grossa. Chamaria também um rapper, o Mano Brown, dos Racionais MC’s.

ISTOÉ – Teria coragem de encarar a Casa de novo?
Supla – Se rolasse daqui a algum tempo, talvez. Agora, nem pensar. O desgaste e o stress são muito grandes.

ISTO É – O que é preciso para se dar bem na Casa? Que conselhos daria aos novos participantes?
Supla

– Ser autêntico, real, ou seja, ser você mesmo. Se você for um espírito de porco, vai se dar mal.