Em 15 dias, o farmacologista Antônio Zanini, chefe do setor de informações de medicamentos do Hospital das Clínicas de São Paulo, deverá entrar com um pedido no Ministério da Saúde para que as propagandas de produtos enriquecidos com vitamina C não alardeiem efeitos contra a gripe. O especialista não acredita na eficácia da substância para driblar os resfriados e afirma que o consumidor é enganado. “Não há estudo científico sério mostrando que a vitamina C aumente as defesas do organismo, prevenindo a gripe”, garante. A propaganda das guloseimas não diz literalmente que a vitamina C cura a doença. Mas os anúncios destacam a presença da substância que, no imaginário popular, está associada ao fim dos espirros. Por isso, Zanini diz que os produtos não deveriam fazer nem mesmo menção ao ingrediente.

Polêmica à parte, a tendência é as pessoas recorrerem cada vez mais ao suposto benefício de balas e pastilhas com vitamina C nesta época do ano. O estudante de direito Renato Gonzaga Galdieri, 24 anos, de São Paulo, recentemente adotou os dropes enriquecidos com a substância por acreditar que o deixarão mais disposto. “Passei a me sentir melhor”, assegura. Consumidores como Galdieri reforçam os planos dos fabricantes de investir no segmento. A empresa Merck, dona da marca Cebion, por exemplo, lançou em janeiro a bala Cebiolon para disputar esse mercado. O produto vende em média 300 mil pacotes por mês. Cada unidade contém 60 miligramas de vitamina C. O doce é vendido como suplemento alimentar. A justificativa da Merck é que o produto consegue suprir as quantidades diárias dessa vitamina que o corpo requer (cerca de 65 mg). Se o produto tivesse um miligrama a mais da substância seria considerado remédio. Mas a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) está de olho. Para ser vendida como bala é preciso que os 60 miligramas de vitamina C estejam distribuídos em 100 gramas de produto. Como o Cebiolon está muito aquém dessa pesagem, o órgão federal promete notificar a empresa.

A nutricionista Anita Sachs, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), critica o consumo desse tipo de doce. Ela adverte que não se deve substituir uma dieta saudável por produtos recheados de calorias e apelos de mercado. “Basta uma laranja ou meio mamão papaia por dia para o corpo se abastecer adequadamente de vitamina C”, ensina Anita.

Outro produto que apela para a presença da vitamina C em sua composição é o dropes Vita-C, produto da Warner Lambert, que vende 5 milhões de unidades por mês. Para a gerente de produto Sílvia Fernandes, a vitamina C é apenas um atrativo a mais. “Não temos a intenção de fabricar um medicamento”, afirma. A bala tem apenas 11% da quantidade de vitamina C que o corpo precisa por dia. “Antes, cada unidade tinha 60 miligramas, mas a Anvisa pediu para baixarmos a quantidade”, conta. Resta saber se o consumidor entende que, nesse caso, a vitamina C tem a função de ser apenas um simples diferencial do produto. 

Cabo-de-guerra vitaminado
Não é de hoje que os benefícios da vitamina C contra gripe andam na corda bamba. Para a nutricionista Anita Sachs, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), não há provas de que o composto combata a gripe. O geriatra Luiz Roberto Ramos, também da Unifesp, discorda: “A substância fortalece as defesas do corpo, pois quando entra no sangue combate os radicais livres, moléculas que prejudicam o funcionamento do organismo”, explica. O especialista chegou a essa conclusão após avaliar cerca de 1.600 idosos. “Por meio de um exame de sangue, percebemos que os níveis de vitamina C aumentaram e os voluntários passaram a adoecer menos e a se sentir mais dispostos”, afirma.