Nem tudo é notícia ruim quando o assunto é o racionamento de energia. Os fabricantes e vendedores de lâmpadas fluorescentes, geradores, aquecedores movidos a energia solar, lampiões e até lanternas que o digam. A maioria está produzindo a pleno vapor, repondo estoques e contratando mais funcionários. Tudo para atender à demanda, que, em alguns casos, triplicou.

Uma das maiores indústrias de geradores do País, a Stemac, com sede em Porto Alegre, sentiu de cara o aumento da procura. A produção, que andava na casa dos 250 geradores por mês, fechou maio acima de 600 unidades. “Tivemos de contratar mais 200 funcionários, criamos o turno da noite e estamos pensando em contratar ainda 100 pessoas nas próximas semanas”, diz João Luiz Buneder, diretor vice-presidente da Stemac. O faturamento deverá dar um salto considerável, de R$ 140 milhões registrados no ano passado para mais de R$ 200 milhões neste ano. O único empecilho para essa performance poderá vir da recente alta do dólar. Nos geradores mais potentes, até 80% do custo final é em dólar, principalmente porque os motores são importados. Além disso, o prazo de entrega, que antes era de 30 a 45 dias, agora leva até um mês e meio a mais.

Cliente dos fabricantes, Paulo Ney Maillo, diretor da Montesp, empresa de São Paulo especializada na locação de geradores, diz que algumas indústrias chegaram a pedir 120 dias para entrega. Lá a demanda também cresceu de repente e agora ele está com todos os 120 geradores que possui alugados. “Nós sempre trabalhamos com uma folga de 25% a 35%, mas agora estamos sem nenhum em estoque. Se tivesse mil geradores, alugaria todos”, diz Maillo. Ampliar a frota de geradores, por ora, é difícil. Além da demora na entrega, o mercado secundário, de usados, está confuso. “O valor do usado dobrou e, para nós, não adianta pagar tão caro”, afirma. Fabricantes e locadoras concordam que outra febre parecida com esta só mesmo nos meses que antecederam o “bug” do milênio. Naquela ocasião, o receio era que uma pane nos computadores afetasse a distribuição de energia. A correria foi grande, mas, ainda assim, bem menor do que a atual.

Dólar caro – Para atender a procura, que triplicou nas últimas semanas, a filial brasileira da Coleman, fabricante americana de artigos de camping e lazer, precisou recorrer a suas parceiras latino-americanas. Localizou estoques nas filiais no México e na Venezuela e fez um pedido extra à matriz. “Estamos correndo para repor o estoque das lojas”, diz Sílvia Bagnoli, presidente da Coleman do Brasil. A procura cresceu mais para lampiões, tanto nos modelos a gás como nos mais sofisticados, a bateria e pilha. Como os produtos são importados, talvez haja algum reajuste nos preços – hoje na faixa de R$ 50 a R$ 150, no caso dos lampiões – para compensar a desvalorização do real. “A demanda cresceu primeiro em São Paulo e no Rio. Agora são os clientes no Nordeste que estão mais preocupados”, diz.

Os consumidores também estão pensando em soluções de mais longo prazo. A paulista Heliotek, fabricante de aquecedores de água movidos a energia solar, também viu as encomendas triplicarem em maio. “Para quem consome cerca de 800 kWh por mês, significa uma economia mensal de 300 kWh”, diz José Ronaldo Kulb, diretor-comercial da empresa. No final do mês, garante Kulb, representará uma economia de 30%. Uma família com cinco pessoas gastará cerca de R$ 2,2 mil para instalar um aquecedor capaz de armazenar 500 litros de água. Em dois anos, terá amortizado o investimento.

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