Entrar no supermercado e fazer suas próprias compras. Esse ato tão corriqueiro para o cidadão comum ganha sabor de liberdade para alguns clientes dos Supermercados Sé, de São Paulo. A rede, que mantém 60 lojas no Estado e uma em Uberlândia, em Minas, está lançando o ProjetoFacilitar de prestação de serviço a deficientes visuais. Um público que nos países em desenvolvimento como o Brasil corresponde a quase um milhão de pessoas, segundo estimativa da Organização Mundial de Saúde (OMS). Com um investimento médio de R$ 15 mil mensais e a transformação de 120 funcionários em “facilitadores”, a idéia é garantir que pessoas com restrições visuais possam entrar na loja, comprar, pagar e levar para casa os produtos de sua escolha como qualquer outro consumidor. “Todos foram treinados para orientar, sem indução de compra”, afirma Mônica Guerra, gerente de marca do Sé. Além da ajuda dos atendentes, o supermercado oferece um tablóide com promoções quinzenais em braile. “Em casa, quem faz as compras é minha mãe. Mas com esse novo serviço já posso dar uma escapadinha na hora do almoço para comprar um iogurte ou uma bolachinha para a tarde”, comemora Regina Fátima Caldeira de Oliveira, 47 anos, que perdeu a visão com sete anos por causa de um glaucoma congênito.

Regina é consultora de braile da Fundação Dorina Nowill para cegos (0800-7701047), que há 55 anos atende gratuitamente crianças e adultos com problemas visuais. A fundação participou ativamente para a concretização do projeto. Deu informações para o treinamento dos facilitadores e fez a tradução e a impressão dos textos do informativo de preços e até de um mapa descritivo da posição das gôndolas nos supermercados. “A iniciativa contribui para a inclusão social. Demonstra respeito aos direitos dos deficientes”, analisa Maria Cristina Felippe, gerente do serviço de atendimento ao cliente da fundação.

A entidade mantém um centro de diagnóstico clínico e social, salas de educação especial e reabilitação, além de produzir livros didáticos falados e escritos e revistas no código de pontos em relevo, que permite a leitura pelo tato. Regina Oliveira viaja muito a serviço e chama a atenção para a necessidade de outras iniciativas como essa. “São poucos os produtos com alguma identificação em braile. Os fabricantes alegam ser difícil marcar com os pontos cada produto, já que muitos utilizam a mesma embalagem para vários sabores”, diz ela. “O uso do código, segundo eles, elevaria os preços. Nossa dificuldade começa na locomoção dentro dos mercados e na falta de meios para reconhecer as notas de real”, completa. Mas, se comprar ficou mais fácil, pagar continua difícil. As cédulas com tamanho e espessura iguais – exceção feita à nota de R$ 10 – complicam a identificação tátil. 


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