Os intervalos entre os acidentes causados pela Petrobras no País estão se tornando cada vez menores.
As tragédias agora são mensais. Este ano, só janeiro escapou, mas fevereiro, março, abril e maio foram meses premiados com a negligência da empresa em cinco acidentes. Na quarta-feira 30, foi a vez de moradores de um condomínio de alto luxo em Barueri, na Grande São Paulo. Por volta das 11h30, um duto subterrâneo rompeu e um verdadeiro chafariz, que chegou a atingir cerca de 15 metros de altura, jorrou 200 mil litros de óleo sobre ruas e casas do condomínio Tamboré 1 durante 15 minutos. Uma das sete casas mais atingidas, a do libanês Mohamed Hassan, ficou com o telhado completamente preto. Algumas piscinas das mansões mais pareciam reservatórios da própria Petrobras, tamanha a quantidade de óleo. Nas áreas externas e jardins, quase nada escapou do banho. Em uma das casas, o óleo chegou a entrar nos cômodos. O vazamento só não causou maiores danos porque o óleo é de baixa volatilidade.

Para o secretário de Meio Ambiente do Estado, Ricardo Tripoli, a causa mais provável do acidente foi a exaustão e corrosão do duto, que tem 38 cm de diâmetro e transporta óleo do terminal de Barueri para a Replan, refinaria de Paulínia. “Solicitamos à Petrobras uma vistoria geral em todos os dutos de áreas urbanas”, afirma Tripoli. Segundo o Sindicato dos Petroleiros (Sindipetro), um oleoduto tem vida útil de 20 anos, mas o de Barueri já está em funcionamento há cerca de 30 – o terminal foi construído no início dos anos 70. A sequência das ações pós-acidente foi a mesma da maioria dos outros casos: depois do fato consumado, a Petrobras controlou o vazamento para evitar maiores danos; então, foi a vez de limpar o estrago. Por fim, órgãos de meio ambiente calculam os prejuízos para fixar a multa e a Petrobras, depois de questionar o valor na Justiça, acabará pagando.

Atraso – Enquanto aguardam o término da operação limpeza, feita por 600 pessoas e 16 caminhões a vácuo, os moradores das casas prejudicadas estão hospedados, à custa da empresa, num apart-hotel em Alphaville, condomínio vizinho. Henri Philippe Reichstul, presidente da Petrobras, visitou o Tamboré 1 ainda na quarta-feira. Toda a sua presteza e disposição em ressarcir os proprietários podem até evitar que eles movam processos de indenização. Sobre a sequência assustadora de acidentes, Reichstul disse que ela é “resultado de 20 a 30 anos de atraso em relação à questão ambiental”. Segundo ele, o quadro deve mudar em dois anos: “Temos recursos, sabemos o que fazer, mas isso leva algum tempo.” No plano de segurança, anunciado no ano passado, está prevista a automatização dos dutos, cujo controle hoje é muito precário – homens se revezam para observar o funcionamento. A maioria dos rompimentos demora para ser descoberta, como no caso do acidente na Repar, no Paraná, em julho de 2000, quando 4 milhões de litros de óleo escaparam durante três horas para o Rio Iguaçu sem que alguém tomasse conhecimento.

Em Barueri, os moradores do Tamboré 1 estão com as piscinas tão impróprias para banho quanto as praias de São Sebastião e Ilhabela (SP) depois do vazamento de 86 mil litros de óleo em novembro de 2000. Porém, em situação menos dramática que as famílias dos 11 petroleiros mortos na explosão da plataforma P-36, na Bacia de Campos (RJ), em abril passado. Todos são vítimas da Petrobras, que está se especializando em causar danos aos brasileiros.