Paus, machados, facas e faixas empunhadas por mais de cinco mil pessoas agitaram na quarta-feira 30 as cercanias do Parlamento da Indonésia, na capital Jacarta. Caminhões de peregrinos de todo o país tentavam derrubar as grades de ferro e invadir o edifício. Os furiosos manifestantes prometiam um banho de sangue e só foram contidos quando as tropas de choque indonésias jogaram jatos de água e bombas de gás lacrimogêneo. Ao contrário do que se pode imaginar, os protestos incendiários eram contra a cassação do presidente da Indonésia, Abdurranham Wahid, também chefe da maior organização islâmica no país de maior população islâmica do mundo. O presidente é acusado de corrupção e desvio de fundos estatais. Enquanto os embates prosseguiam em território indonésio, o destino de Wahid, 60 anos, era traçado pela Assembléia Consultiva Popular (Senado), que, por 365 votos a favor e 4 contra, decidiu abrir o processo de impeachment contra o presidente.

Nem os US$ 3,7 milhões que os opositores acusam Wahid de ter usado em seu proveito nem os US$ 2 milhões de presente do sultão do Brunei são responsáveis pelo enfraquecimento do primeiro presidente democrático da história do país. Apesar de o governante já ter sofrido duas censuras do Parlamento, até agora a Procuradoria Geral da Indonésia não encontrou provas eficazes contra ele. Quase cego de um olho e com sérios problemas de saúde, foi acusado de inaptidão para governar. Na verdade, o que mais pesa sobre o Wahid, que está apenas há 19 meses no poder, é sua incapacidade de reagir ante uma combalida economia e às crescentes e violentas ondas separatistas que ameaçam estraçalhar o arquipélago. Depois de três décadas de ditadura, Wahid, do Partido do Despertar Nacional, teria surgido como uma esperança para a tolerância religiosa e racial. Mas falhou em sua missão. Tratou com desdém e ironia os líderes de oposição que apoiavam seu governo, chegando a dizer que se livrou dos ministros da Área Social e da Informação porque se comportavam como se estivessem no jardim da infância.

Enquanto a votação acontecia no Parlamento, a poucos metros dali, Wahid reunia-se com os países emergentes G-15. No encontro, ele afirmou que irá cumprir normalmente seu mandato até 2004. Um recado direto à vice-presidente, Megawati Sukarnoputri, do partido Luta Democrática Indonésia (PLDI), que arquiteta a saída do líder indonésio, prevista para acontecer no máximo até agosto. Para contentar sua inimiga, na sexta-feira 1º, Wahid demitiu quatro ministros, nomeando como o novo chefe de Segurança um aliado de Megawati. Todas essas manobras seriam para salvar-se do impeachment. Isso porque sua última cartada seria recorrer
aos poderes da emergência civil e dissolver o Parlamento, o que, apesar de seu temperamento egoísta e imprevisível, parece ser improvável.