Eles desapareceram da Terra há 65 milhões de anos. Andavam em bandos e espalhavam-se por um supercontinente, o Gonduana, que incluía a América do Sul, a África, a Oceania, a Austrália, a Antártica e a Índia. Eram quadrúpedes gigantescos, herbívoros, tinham cabeça minúscula e pescoço longuíssimo e, ao contrário de outros répteis que deixavam as crias crescerem à própria sorte, cuidavam de seus filhotes e os protegiam. Até pouco tempo atrás, a paleontologia contabilizava em torno de 40 espécies diferentes dessas bestas gargantuanas da família dos titanossaurídeos. Pois desenterrou-se mais uma. Trata-se do Paralititan stromeri, um monstro de 60 a 80 toneladas de massa corpórea, possivelmente um dos mais pesados vertebrados que viveram no planeta no período Cretáceo, entre 146 e 65 milhões de anos atrás. Partes de seu esqueleto foram descobertas no deserto do Egito por uma equipe de paleontologistas da Universidade da Pensilvânia, dos Estados Unidos. A aventura durou sete semanas e foi registrada pela rede de televisão americana MPH Entertainment para a produção do documentário-ficção O dinossauro perdido do Egito.

Divulgado na edição da revista Science da semana passada, o Paralititan encontrado no início de 2000 é o segundo maior dinossauro do mundo na categoria peso pesado – o titular é o sul-americano Argentinossauro. Só o úmero (osso da pata dianteira) possui a altura de um ser humano, 1,69m de extensão. Estima-se que o bicho teria o comprimento de dois ônibus (cerca de 30 metros) e seu dorso, a altura de quatro elefantes empilhados. Várias vértebras, costelas, os dois omoplatas e os dois úmeros, além de possíveis couraças da pele, estavam preservadas entre rochas de arenito, xisto limoso, sedimentos de restos de plantas e de raízes. Acredita-se que ele teria morrido há 94 milhões de anos. “O Paralititan pode ajudar a entender a distribuição da fauna no Gonduana e precisar a data em que o continente começou a se fragmentar. Nossa curiosidade só aumenta”, disse a ISTOÉ o geologista, paleoecologista e líder da expedição, Joshua Smith, 30 anos.

Quebra-osso – Smith e sua equipe também sugerem que a árida região onde foi encontrado o Paralititan – localizada a 300 quilômetros a sudoeste do Cairo – tenha abrigado no passado uma floresta tropical, com bancos de areia, planícies, pântanos, rios e canais de água rasa. Conhecido como Bahariya Oasis, o lugar guarda um tesouro paleontológico que andava esquecido desde o início do século passado. Entre 1915 e 1935, o geólogo alemão Ernst Stromer descobriu ali fósseis de quatro espécies de dinossauros. Um paraíso de dinos. Os exemplares foram para o Museu de Munique, na Alemanha, mas acabaram destruídos por um bombardeio em 1944, durante a Segunda Guerra Mundial.

Ainda se sabe muito pouco sobre a vida e o comportamento dos dinossauros. Carregando tantas toneladas nas costas e uma cauda quilométrica, pode-se imaginar como faziam, por exemplo, para copular. “Alguns fósseis de titanossaurídeos apresentam vértebras da coluna quebradas e calcificadas. É possível que essas sequelas tenham surgido durante o acasalamento, em que o macho se coloca sobre as costas da fêmea”, afirma o paleontólogo Alexander Kellner, do Museu Nacional, no Rio de Janeiro. “Se o sexo-quebra-osso se popularizou entre os dinossauros, talvez essa seja a causa de sua extinção”, observa, entre gargalhadas, o geólogo Smith.

Os últimos registros desses bichos colossais são de 65 milhões de anos. Uma das hipóteses mais aceitas para sua extinção, explica o paleontólogo Kellner, é a queda de um meteoro ou asteróide, que teria destruído a fauna e a flora, desestruturando a cadeia alimentar no planeta. Há quem acredite também que o aparecimento do homem só se tornou possível com a extinção dos dinossauros. Mas, como há um intervalo abissal entre os dois episódios – a espécie humana apareceu há apenas quatro milhões de anos –, os cientistas preferem não se arriscar em deduções desse tipo. O certo é que os mamíferos, de dimensões discretas se comparados com os dinos, só puderam se desenvolver e iniciar o domínio sobre o planeta depois que vizinhos gigantes, como os titanossaurídeos, foram embora. Agora, só mesmo nos cinemas e museus.