A crise econômica sem fim que atormenta a presidenta da Argentina, Cristina Kirchner, chegou a um dos setores mais pujantes do país: a indústria vinícola. De janeiro a junho, segundo dados do Instituto Nacional de Vitivinicultura, o volume de vinho exportado caiu 4,9% em relação ao mesmo período do ano passado – que já havia sido um dos mais fracos dos últimos anos. Internamente, o consumo também recuou e não há perspectiva que indique que o cenário possa mudar. As razões estão diretamente ligadas ao cenário econômico. Com a inflação próxima de 40% ao ano, os custos de produção dispararam, especialmente os encargos trabalhistas. Graças à grande quantidade de mão de obra que a colheita de uvas exige, analistas estimam que o aumento dos gastos dos produtores foi de pelo menos 100% nos últimos quatro anos. Atingidos por essa realidade, os empresários tiveram de aumentar o preço das bebidas, o que acabou por diminuir o interesse de compradores estrangeiros. “As grandes produtoras têm mais chance de segurar os preços em suas negociações, mas as menores certamente precisam repassar os aumentos de custos”, afirma Deco Rossi, da Wines of Argentina, associação que representa mais de 90% das vinícolas exportadoras.

abre.jpg
EM BAIXA
Cristina e vinícola em Mendoza, principal produtora de vinhos do país:
com os preços em alta, as exportações caíram

ECO-02-IE-2335.jpg

A questão do preço é especialmente sensível para os produtores argentinos. Embora também sejam reconhecidos pela qualidade, os vinhos do país deixaram concorrentes diretos para trás graças a uma política tarifária agressiva. Atualmente, a Argentina é o quinto maior produtor mundial, atrás apenas de nações ricas (leia quadro). A dificuldade dos vinicultores argentinos ainda não bateu à porta do Brasil – o quarto principal destino de seus produtos –, mas os efeitos devem ser sentidos quando as importadoras tiverem de renovar seus estoques. Para muitas vinícolas argentinas, a saída tem sido investir no turismo. Segundo Santiago Petenatti, sócio de uma agência que leva visitantes às regiões dos vinhedos, nunca tantos brasileiros compraram pacotes para conhecer as vinícolas. Pelo menos nisso há algum motivo para brindar.

IEpag80_Economia.jpg